Até ali, por S. Miguel, basto eu!
Embora tenha mudado de sítio, o Basto lá está na Praça da
República, em Cabeceiras de Basto. Pela bizarra da composição da
figura, é um dos mais curiosos monumentos de todo o país!
Representa um guerreiro lusitano e, de facto, trata-se de uma dessas
estátuas jacentes de figuras admiradas que se colocavam sobre
túmulos. Em granito, parece vestir túnica, exibe um escudo sobre a
barriga, pendendo-lhe o punhal e a espada embainhados. Ora a estátua
foi alterada por duas vezes, pelo menos está datada de 1612 e de
1892. Acrescentaram-lhe, sempre de pedra, uma barretina, umas
bigodaças e meteram-lhe meias e botas. No escudo tem a inscrição:
Ponte de S. Miguel de Refoyos 1612. Ora a lenda... A Lenda do Basto é
muito antiga. Vamos copiá-la de um folheto municipal:
O império visigodo não resistiu aos ataques dos mouros, comandados
por Tarik. Espalhando o terror, estes avançaram ávidos de glória
através da Galiza. Os ecos dos seus ataques chegaram ao Mosteiro de
S. Miguel de Refojos, mas não merecem crédito. Bracara Augusta caiu
também nas suas mãos. Então acreditaram e preparam-se para a
defesa com uma centúria de servos e homens de armas comandados por
D. Gelmiro, venerando abade do mosteiro. Hermígio Romarigues,
parente do fundador do mosteiro, era o guerreiro-monge que mais se
destacava pelo seu porte avantajado de grandes e possantes membros e
com o rosto retalhado por mil golpes das escaramuças passadas.
Postando junto à ponte que dava acesso ao mosteiro, ao aproximar das
tropas de Tarik estendeu a mão possante assegurando:
E bastou. Três vezes arremeteram os mouros contra as débeis defesas
do mosteiro. Mas por três vezes foram repelidos pela espada de
Hermígio Romarigues. A ponte sobre a ribeira ficou atulhada de
corpos e os chefes infiéis tiveram de tratar com D. Gelmiro de igual
para igual, gorando-se, deste modo, a suposta intenção de arrasarem
o mosteiro e decapitarem os monges. Posteriormente, o monge-guerreiro
ter-se-á integrado no reduto cristão situado na Astúrias, de onde
irradiava já a Reconquista a partir de Covadonga, sob o comando de
Pelágio.
Hermígio Romarigues, O Basto, foi imortalizado através da estátua
que erigiram em sua homenagem, como reconhecimento pelos serviços
prestados a El-Rei Pelágio.
Mas uma vez os frades de
Refojos foram vencidos. Por uma mulher, D. Comba, que levou a sua
vingança a ponto de mandar pensar os cavalos dentro da própria
igreja do mosteiro. Fidalga da Casa da Taipa, cruel, exigia que lhe
fritassem vivas as trutas acabadas de pescar no ribeiro próximo. E,
quando morreu, num estrondo, desapareceu do caixão em que levavam a
enterrar em Fafe! Dizem que todas as sextas-feiras, bem de noite, o
seu espírito anda à volta da capelinha de sua casa...