Na madrugada deste dia 27 para o dia 28 de fevereiro ocorreu aquele que
talvez seja o evento anual mais importante para o cinema mundial. A
octogésima oitava entrega do Oscar foi marcada pela ausência de um
favorito absoluto diferentemente dos últimos anos.
Alegro-me a dizer que acho que este foi o ano mais justo da história do
Oscar, todos os prêmios principais foram distribuídos àqueles que
realmente fizeram o melhor trabalho em 2010, sem as famosas
“compensações” concedidas pela academia para corrigir erros anteriores
ou para homenagear a carreira de alguém (como o que aconteceu ano
passado com o prêmio de melhor atriz sendo entregue a Sandra Bullock).
Toda esta justiça fez a cerimônia ter um clima paradoxal, pois mesmo sem
um favorito definido, todos os premiados foram muito previsíveis, eu
mesmo acertei todos os vencedores das principais categorias. Diferente
do que ocorreu ano passado, por exemplo, quando surpreendentemente o
multimilionário favorito Avatar, foi desbancado pelo humilde projeto de
Kathryn Bigelow. Mas a grande surpresa foi Maryl Streep não ser indicada
à algum prêmio.
Brincadeiras a parte, vamos aos indicados e vencedores naquelas que,
para mim, são as principais categorias (vencedores em negrito).
Melhor Roteiro Adaptado:
A Rede Social
127 Horas
Toy Story 3
Bravura Indômita
Inverno da alma
Pedra cantada! O ritmo do roteiro é excelente, estatueta muito bem entregue. Acredito que Bravura indômita tenha recebido a indicação devido ao respeito da academia para com os irmãos Coen.
Melhor Roteiro Original:
Minhas Mães e Meu Pai
A Origem
O Discurso do Rei
O Vencedor
Another Year
A Origem era o filme favorito para o prêmio devido ao fato de ter ganhado o prêmio do sindicato dos roteiristas. Mas o roteiro de “O discurso do rei” é brilhante. O filme em questão foi o meu favorito do ano, torci para ele em quase todas as categorias em que concorreu, e no fundo eu imaginava que o sindicato iria se render ao belíssimo roteiro desta obra.
Melhor Filme em língua estrangeira:
Biutiful
Fora-da-Lei
Dente Canino
Incendies
Em um Mundo Melhor
Se entre os concorrentes à melhor filme faltavam filmes melancólicos, entre os de língua estrangeira os fãs deste gênero não tinham do que reclamar. Todos os filmes são depressivos e pessimistas. Eu não tinha um favorito para esta categoria, que vencesse o melhor ou o mais triste.
Melhor documentário:
Lixo extraordinário
Exit Through the Gift Shop
Trabalho Interno
Gasland
Restrebo
Confesso que não assisti a nenhum filme que concorria nesta categoria. Naturalmente torcia pelo documentário brasileiro-britânico “Lixo extraordinário”. Fiquei com muita vontade de conferir o vencedor “Trabalho interno”, parece que o premio foi bem entregue.
Melhor Atriz Coadjuvante:
Amy Adams – O vencedor
Helena Bonham Carter – O discurso do rei
Jacki Weaver – Animal Kingdom
Melissa Leo – O vencedor
Hailee Steinfield – Bravura indômita
Um dos únicos prêmios indiscutíveis da noite. Melissa Leo foi indiscutivelmente a melhor entre as indicadas, e o prêmio foi completamente merecido. Adoro o trabalho da Bonham Carter, ela é talvez minha atriz favorita na atualidade, mas seria insano não entregar o prêmio para Leo. Destaque também para Haille Steinfield, que aos 14 anos já recebeu uma indicação por seu trabalho em bravura indômita, mas alguém entendeu o fato de ela ser indicada como coadjuvante? Tendo em vista que ela é a protagonista da trama.
Melhor Ator Coadjuvante:
Christian Bale - O vencedor
Jeremy Renner – Atração perigosa
Geoffrey Rush – O discurso do rei
John Hawkes – Inverno da alma
Mark Ruffalo – Minhas mães e meu pai
Outro prêmio indiscutível. Por um instante cheguei a pensar que a academia poderia não premiar Bale devido ao seu temperamento “complicado”, mas logo afastei esta tola idéia da minha mente. Bale é um ator brilhante que demorou muito a ser reconhecido pela academia, interpretou em o vencedor o melhor papel de sua carreira, e mereceu o premio recebido. Achei estupenda a atuação de Geoffrey Rush, não fosse Bale ter atuado de maneira tão magistral, Geoffrey certamente levaria a estatueta para casa.
Melhor atriz:
Nicole Kidman – Reencontrando a felicidade
Jennifer Lawrence – Inverno da alma
Natalie Portman – Cisne negro
Michelle Williams – Blue Valentine
Annete Bening – Minhas mães e meu pai.
Se Natalie Portman não vencesse esse ano, certamente venceria em alguma próxima edição de maneira a compensar a absurda injustiça. A atriz interpretou um personagem complexo e que exigia muita dedicação, o resultado foi uma das mais belas performances femininas dos últimos 10 anos e sem duvidas o melhor trabalho da atriz. Por um momento temi que 2010 se repetisse, e se eles resolvesses premiar Nicole Kidman pelos mesmos motivos que os levaram a premiar Sandra Bullock? Mas a academia não poderia cometer tamanho atentado contra o belíssimo trabalho de Portman.
Melhor Ator:
Jesse Einsenberg – A rede social
Colin Firth – O discurso do rei
James Franco – 127 horas
Jeff Bridges – Bravura indômita
Javier Barden – Biutiful
Novamente sem surpresas por aqui. Colin Firth foi excepcional, como de costume. Há quem tenha insinuado que Firth foi premiado este ano para compensar o fato de não ter sido premiado em 2010 por “Direito de amar”. Isso é uma bobagem, pois Firth fez por merecer o prêmio deste ano e não foi melhor que Jeff Bridges em 2010. Podem me crucificar, mas não achei o trabalho de James Franco tão bom quanto a critica insinuara. Foi um grande trabalho sem sombra de duvidas, mas não me agradou tanto assim. Javier Barden com seu moribundo e Jeff Bridges com seu John Wayne foram brilhantes, mas repito, ninguém foi melhor que Colin Firth com seu rei gago.
Melhor diretor:
Darren Aronovsky – Cisne Negro
David Fincher – A rede Social
Tom Hooper – O discurso do rei
David O. Russel – O vencedor
Joel e Ethan Coen – Bravura indômita
A preferência da academia pelo trabalho de Tom Hooper agora se confirmava por completo. Como disse anteriormente, meu filme favorito foi O discurso do rei e torci por ele na maioria das categorias, mas honestamente acho que melhor diretor foi exagero. Acho que teria sido mais justo se Fincher ganhasse melhor diretor e ainda assim o discurso do rei faturasse melhor filme, mas como imaginado, a academia resolveu homenagear o diretor do melhor filme do ano. Novamente acho um tremendo exagero a indicação dos irmãos Coen, todos sabem o quão brilhante é o trabalho da dupla, não é necessário indicá-los todo ano para não esquecermos. Achei ridículo Christopher Nolan não ter sido indicado como diretor, a origem pode até não ser um filme maravilhoso, mas o trabalho de Nolan como diretor para mim é superior até mesmo ao trabalho de Hooper.
Melhor Filme:
O Vencedor
Cisne Negro
O Discurso do Rei
A Origem
A Rede Social
Minhas Mães e meu Pai
Toy Story 3
127 Horas
Bravura Indômita
Inverno da Alma.
Que vença o melhor, e assim se fez. O discurso do rei foi o melhor filme do ano em Hollywood e mereceu a “vitória”. O vencedor é um ótimo filme, que se destaca principalmente pelo elenco brilhante. Cisne Negro é belíssimo, intrigante e conta com o ainda mais belo trabalho de Portman. A origem é um filme interessante, extremamente bem realizado e extremamente bem dirigido por Nolan. A rede Social é o filme que mais me surpreendeu este ano, não imaginava que este filme pudesse ser tão interessante e tão bem realizado. Minhas mães e meu pai é a comédia da vez, um filme legal que merece ser conferido. Toy Story 3 é muito divertido, existia até campanha entre alguns críticos e diretores para que ele vencesse como melhor filme. 127 horas é emocionante, e vale pelo bom trabalho de Colin Firth e do diretor Danny Boyle. Bravura Indômita, como qualquer trabalho dos Coen, é um filme obrigatório. Divertido, dramático e muito bem realizado. Não da para dizer que Inverno da alma é o filme independente da vez, pois independente Discurso do rei também o é. Digamos que Inverno da alma é o filminho/filmaço da vez, só a atuação de Jennifer Lawrence já é suficiente para tornar este filme obrigatório.
Gostaria de comentar brevemente que não gostei da cerimônia do Oscar, a
premiação muito me agradou, mas a cerimônia foi muito fraquinha. Muitas
partes lembraram mais o “MTV Movie Awards” do que o “Academy Awards”. Os
jovens apresentadores não me agradaram muito, principalmente James
Franco. Senti-me embaraçado no momento em que eles apareceram com as
roupas trocadas, isso é algo necessário em uma entrega de Oscar? Acho
muito mais interessante incumbir da apresentação alguém mais experiente e
que saiba conduzir esse tipo de cerimônia com mais sutileza. Quanto às
apresentações, achei o número final com aquelas crianças de quinta série
broxante, podem me chamar de insensível, mas foi broxante mesmo. Tanto
que deu vontade de desligar a televisão antes do fim do mesmo para não
perder meu tempo. Finalmente eles pararam com aquela babaquice de
designar uma celebridade para homenagear cada um dos atores indicados
aos prêmios de melhor ator e melhor atriz, o que acarretava em situações
constrangedoras como a que ocorreu no ano passado quando Tim Robbins
foi falar sobre sua relação de amizade com Morgan Freeman e deixou bem
claro que eles NUNCA foram amigos apesar de terem trabalhado juntos em
“Um sonho de Liberdade”.