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POP FIVE MUSIC INCORPORATED



Os Pop Five Music Incorporated (nome feliz, apesar de inglês) formaram-se no Porto em 1967 com David Ferreira, não, não o da EMI (órgão Hammond, piano, guitarra, percussão e voz), Luís Vareta (baixo e voz), Tozé Brito (baixo, guitarra, fuzz e voz, ex-Grupo 4), Paulo Godinho, irmão de Sérgio (voz, órgão Hammond, piano e guitarra) e Álvaro Azevedo (bateria e percussão).

Sob a direcção artística de Fernando de Matos, tocavam, à época, versões dos Beatles, Rolling Stones, Procol Harum, Moody Blues e outros nos bailes de estudantes, nas festas de amigos, arraiais, sendo os mais famosos os da Quinta da Conceição, em Leça da Palmeira.

Todos os grupos nascem da mesma maneira. São grupos de amigos na adolescência, com 17 ou 18 anos, e a nós aconteceu o mesmo. Quando nos juntámos, só queríamos tocar em festas de amigos e nas garagens.

Um de nós tinha uma garagem grande e era aí que ensaiávamos, com um amplificador, uma aparelhagem de vozes e os instrumentos. Não havia meios técnicos: ligávamos o baixo, a guitarra e a organeta no mesmo amplificador.

Mas as coisas foram evoluindo e das garagens passámos para as festas de finalistas e para os festivais no Verão com mais três ou quatro grupos. Nós, tal como os grupos de baile, ouvíamos os Beatles e os Stones na rádio - porque, na altura, os discos eram artigos de luxo - mas não nos limitávamos a copiar.

À época, existiam grupos tecnicamente melhores, mas nós éramos mais atrevidos. Não é que transformássemos as músicas das quais fazíamos versões mas tentávamos não copiar. Se não conseguíssemos tirar o solo, fazíamos o solo à nossa maneira.


Os discos não chegavam cá a tempo e horas e nós começámos a ser conhecidos no Porto e arredores devido às festas que fazíamos. Isso chegou aos ouvidos da editora Orfeu, que na altura era representada pelo Carlos Cruz e pelo Viale Moutinho.
São eles que nos aparecem no local onde ensaiávamos para que lhes tocássemos o 'Ob-La-Di Ob-La-Da" e o 'Blackbird', dos Beatles. Como esses discos não existiam no mercado, propuseram-nos gravar versões daquilo. Não digo que fossem discos de ouro ou platina, mas vendiam-se muito bem, explica Álvaro Machado.

Em 1968, os Pop Five Music Incorporated publicaram o primeiro EP, "Those Were The Days" (Orfeu ATEP 6289), que já incluía um original de Tozé Brito, "You'll See".

E antes do primeiro e único LP, ainda publicaram, já em 1969, um segundo EP (Orfeu ATEP 6310) , com uma versão de "Ob-La-Di Ob-La-Da", dos Beatles.

O LP, "Pop Five Music Incorporated" (Orfey XYZ 140), sub-intitulado "A Peça" (por isso o disco está dividido ficticiamente em "actos"), inclui no Lado A "Jesus Alegria Dos Homems" (arranjo dos Pop Five sob um tema de Bach), "Blackbird" (Beatles), "To Love Somebody" (Bee Gees), "Medicated Goo" (Traffic), "Proud Mary" (Creedence Clearwater Revival) e "Mess Around" (Ray Charles).

O Lado B é composto por "Hush" (Joe South/Deep Purple), "Fire" (Jimi Hendrix), "Sour Milk Sea" (George Harrison), "Come Down To My Boat" (Every Mother's Son) e "Can I Get A Witness" (Marvin Gaye/Rolling Stones).

Não deixa de ser original este alinhamento que inclui designadamente uma muito pouco conhecida, mesmo nos dias de hoje, canção a solo de George Harrison.

O álbum foi gravado em estereofonia (quatro pistas), o que era raro à época, por David Ferreira, Luís Vareta, Tozé Brito, Paulo Godinho e Álvaro Azevedo (personae tragicae), a formação original, com produção de Fernando de Matos e engenharia de som de Moreno Pinto (o chamado cast técnico).

Como curiosidade, tinha a indicação de "Made in England", o que não correspondia à verdade, pelo menos no que à gravação dizia respeito. Nesta altura, os discos do Pop Five eram gravados em duas pistas nos estúdios Monte da Virgem da RTP, em Vila Nova de Gaia.

Após a edição do LP, em Novembro de 1969, saem Tozé Brito, para o Quarteto 1111, e não é substituído, e David Ferreira que é substituído por Miguel Graça Moura, pianista de formação clássica, que estudava no Conservatório.

Na verdade, os Pop Five Music Incorporated passam a Pop Four Music Incorporated, mas mantêm a designação original, ou Four & Matos, para os amigos.

Ainda em 1969, os Pop Five são a banda de acompanhamento de Mike McGill no single "Our Last Goodbye/Without Her" (Orfeu SAT 802), com produção de Fernando de Matos.

A década de 70 começou com a edição de um single, "A Menina" (Orfeu SAT 804), única tentativa, falhada, de cantar em português por imposição dos homens da rádio.

Surgiu depois a canção mais mediática do grupo, "Page One", que serviu de indicativo ao programa "Página Um", de José Manuel Nunes, na Rádio Renascença, cuja primeira emissão data de 02 de Janeiro de 1968.

Isso significa que há uma verão original de "Page One", feita especialmente em 1968 para o programa radiofónico, que é ligeiramente diferente da versão comercial editada em 1970 no single Orfeu SAT 805.

"Page One" nasceu de uma criação de Tozé Brito e Álvaro Azevedo, a secção rítmica do grupo, mas na versão comercial a autoria é atribuída a Fernando de Matos, Luís Vareta, Paulo Godinho, Álvaro Azevedo e Miguel Graça Moura, ecxluindo Tozé Brito.

Em 1997, a Movieplay, que detém o catálogo da Orfeu, fez uma inacreditável remistura de "Page One", designada por kingsize remix, da autoria de Scotty Marz e incluída na dupla colectânea "Biografia do Pop/Rock" (Movieplay MOV 30.367-A/B).

Numa entrevista a Mário Correia, do "Mundo da Canção", publicada em Janeiro de 1970, Luís Vareta explica que os Pop Five, no ambiente dos conjuntos, têm um ambiente à parte para preencher.

O nosso repertório é o mais progressivo que conheço (quem toca King Crimson, Jeff Beck, Chicago, Keef Hartley, Blood Sweat and Tears, Renaissance, etc, no nosso país?). Sempre evitámos a música bubblegum e agora, mais do que nunca, preocupamo-nos em satisfazer o nosso interesse na heavy music, nas correntes mais adiantadas da música pop mundial.
Miguel Graça Moura acrescentou: a verdade nua (desculpem o erotismo) é que, tocando jazz, improvisando em público, adaptando clássicos para música pop e agora, definitivamente, publicando composições próprias em disco, merecemos, efectivamente, o certificado de Grande Conjunto.
Em Maio de 1970, escreveu o "Mundo da Canção" sobre "Page One":

Aconteceu obra-prima: "Page One", originalidade, elucubrações do Pop Five Music Incorporated, um nome inglês para um conjunto portuense que pode ser considerado como o melhor executante instrumental português.

Novo parágrafo para dizer que os quatro (são five só no nome, já foram five e pode ser que venham a sê-lo de novo quando incluírem um metal) visam a Europa. A Europa do êxito, o topo dos tops nos hit-parades daquém e dalém mar. Um dia destes: a Espanha e a Inglaterra. E o mais que adiante se verá.

Em 1971, os Pop Five gravam seis canções nos estúdios da Pye, em Londres, onde, no ano anterior, tinha estado José Afonso, utilizando então 16 pistas, o máximo então tecnologicamente possível.

Ainda antes do Festival de Vilar de Mouros, editam outro single, "Orange/Mission Impossible" (Orfeu SAT816), com o lado A dominado pelo solo de órgão de Miguel Graça Moura.

O single foi lançado na boîte lisboeta "Beat Club", nas traseiras da Avenida de Roma, após o que Miguel Graça Moura deu uma entrevista de uma página a Bernardo Brito e Cunha no jornal "Disco Música & Moda".

Estivémos em Londres durante 15 dias e durante esse tempo estivémos no estúdio desde as 9 da manhã até à meia-noite, sábados e domingos incluídos. Não era impossível gravar o disco em Portugal. Todos os dias se gravam discos em Portugal, logo este seria mais um. A diferença é que o disco a ser gravado em Portugal nunca atingiria este requinte musical.

Cada hora de gravação nos estúdios da Pye custou aproximadamente 2.800$00 (14 € ), o que, à escala nacional é bastante.
Miguel Graça Moura reconhece a influência rítmica dos Wallace Collection, mas ao contrário do que acontece com os Wallace Collection, cujo estilo é fundamentalmente o recurso ao clássico, o nosso é simplesmente baseado numa rítmica pop.

Nós procuramos uma sonoridade. Simplesmente, não a vamos copiar. No entanto, eu creio que já conseguimos, por vezes, essa originalidade. É, por exemplo, o caso de "Aria".

Quando o disco foi lançado, tinha na face A o "Page One" e na face B o "Page One". Na Alemanha, no entanto, um dos países onde foi lançado, aconteceu o contrário: a "Aria" ocupou a face A e o "Page One" a face B.

Creio que isso se deve ao facto de terem notado o tratamento que foi dado à viola. É que, na verdade, a nossa "Aria" é um exercício de composição barroca, exercício que poderia ser apresentado perfeitamente num exame de composição.
O que é verdade, é que a "Aria" que nós trabalhámos não se identifica com mais nenhuma. Tentámos, acima de tudo, a originalidade.
No blogue Norte Cáustico , afirma-se que "Orange" foi o primeiro single português a ter honras de top londrino, mas esta informação carece de prova.

Em 1971, os Pop Five foram um dos três conjuntos portugueses incluídos no "Álbum Pop Music", que a revista "Flama" publicou em separata. Os outros dois foram o Quarteto 1111 e a Filarmónica Fraude. Individualmente, o único retratado é Fausto.

Foi escolhido para representar a sonoridade 1970, o movimento denominado por "música progressiva". Os seus componentes são indubitavelmente os chefes de fila deste novo tipo de música.

A despeito do título indicar a palavra inglesa five (cinco), o grupo é constituído apenas por quatro: Luís Filipe Vareta (o Pivareta), com 19 anos e cabelo estilo Hendrix. Toca desde os 4 anos. No grupo é o mais agressivo. O seu instrumento é a viola-solo. Na música, em geral, gosta de Peter Green, Jeff Beck e Eric Clapton.

Paulo Godinho, também com 19 anos, é a voz principal do grupo e viola-baixo inato. Está neste momento a iniciar-se com o instrumento mais in da actualidade - a flauta. De temperamento, é o mais rebelde.

Por seu turno, Álvaro Azevedo, igualmente com 19 anos, é dos quatro o mais sóbrio. Fora das actuações é um gentleman de baquetas, explosivo e genial no desempenho das suas funções, a bateria. Como bateristas prefere Charlie Watts, Ginger Baker, Jon Hiseman, Buddy Rich e... Jane Fonda.

Miguel Graça Moura, o "Sério" ou o "Velho", 23 anos, estuda Arquitectura e possui o oitavo ano do curso de Piano do Conservatório e os cursos de História da Música, Teoria Musical e Composição e, ainda, Harmonia Geral. A ele se devem arranjos de JS Bach.

Pop Five Music Incorporated é um grupo de criação colectiva como o demonstra "Page One", desenvolvimento do indicativo que eles criaram para o programa "Página Um".


No mesmo ano de 1971 participam no Festival de Vilar de Mouros (31 de Julho a 15 de Agosto), ao lado de Elton John e de Manfred Mann, então designado como o "Woodstock português".

A banda do Porto tocou no fim de semana de 07 e 08 de Agosto com Mannfred Mann (dia 07), Elton John (dia 08), Psico (Tony Moura), Pentágono (Sousa Pinto), Sindicato (Edmundo Falé, Jorge Palma e Rão Kyao), Quarteto 1111 (já com Tozé Brito, ex-Pop Five), Contacto (Marcos Resende, Paulo Gil, Rui Cardoso e Jean Sarbib), Celos (banda de Barcelos), Bridge (Kevin Hoydale, Rão Kyao, Jean Sarbib, Adrien Ransy), Chinchilas, Mini-Pop (irmãos Barreiros) e Objectivo (Kevin Hoydale, Mike Sergeant).

Inexplicavelmente, a actuação dos Pop Five em Vilar de Mouros teve péssima imprensa:

Os Pop Five Incorporated (no dia 07), com Miguel Graça Moura, eram esperados com muita expectativa, mas constituíram a primeira decepção grande no campo artístico (Disco) com música sem grande força e execução medíocre (MC).

Nada de novo num grupo que já nos tinha decepcionado quando do famigerado Festival da Guarda. Pobreza inventiva, execução medíocre. Um grupo longe de se encontrar (
MC).Os Pop Four eram então Miguel Graça Moura, 24 anos, piano, órgão e viola, Paulo Godinho, 20 anos, viola, baixo e flauta, Luís Filipe Vareta, 21 anos, viola-baixo e viola-acompanhamento, e Álvaro Azevedo, 21 anos, bateria.

Declaram então que nada têm a ver com a renovação da música portuguesa.Depois do Festival, ainda em 1971, editam ainda o single "Stand By/Golden Egg" (Orfeu SAT 826), e até ao final da carreira, ainda despacham mais dois singles, esgotando assim as canções que tinham gravado em Londres, "Take Me To The Sun/Hell Of A Doll" (Orfeu SAT 835 - 1972) e "No Time To Live/That's The Way" (Orfeu SAT 844 - 1972).

Os Pop Five Music Incorporated acabaram em Outubro de 1972 com a saída de Miguel Graça Moura para se dedicar ao ensino e ao moog synthesizer, primeiro com o Quarteto Miguel Graça Moura, depois com os Smoog, de curta duração.

Álvaro Azevedo saiu para os Arte & Ofício e Trabalhadores do Comércio, enquanto Paulo Godinho gravou com o irmão Sérgio antes de emigrar para o Japão.

A 03 de Janeiro de 2003, os Pop Five reuniram-se na discoteca "Estado Novo", em Matosinhos, para assinalar 35 anos de formação e também os 35 anos de canções de Tozé Brito. Foi gravado um DVD que integra a "Odisseia" editada pela Movieplay (capa na imagem).

David Ferreira, Luís Filipe Vareta, Tózé Brito, Paulo Godinho e Álvaro Azevedo interpretaram então "Proud Mary" (Creedence Clearwater Revival), "Black Magic Woman" (Fleetwood Mac/Santana), "To Love Somebody" (Bee Gees), "Let It Be" (Beatles), "Oh! Pretty Woman" (Roy Orbison) e "Page One" (original).

Luís Pinheiro de Almeida
FONTES:
"Álbum Pop Music", separata da "Flama", 1971
"Blitz", 06 de Fevereiro de 2004, direcção de Miguel Cadete
"Enciclopédia da Música Ligeira Portuguesa", direcção de Luís Pinheiro de Almeida e João Pinheiro de Almeida, Círculo de Leitores, 1998
"Disco Música & Moda", nº 13, 01 de Agosto de 1971, direcção de A. Carvalho
"Disco Música & Moda", nº 15, 01 de Setembro de 1971, direcção de A. Carvalho
"Mundo da Canção", nº 2, Janeiro de 1970, direcção de A. de Oliveira
"Mundo da Canção", nº 6, Maio de 1970, direcção de A. Oliveira
"Mundo da Canção", nº 21, 20 de Agosto de 1971, s/direcção indicada
"Mundo da Canção", nº 33, Novembro de 1972, s/direcção indicada
"O Século Ilustrado", nº1754, 14 de Agosto de 1971, direcção de Francisco Mata
"Odisseia, Obra Completa 1968-1972", Álvaro Azevedo, Movieplay, 2003
"Vilar de Mouros - 35 Anos de Festivais", Fernando Zamith, Edições Afrontamento, 2003


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