Primeira Nobre Verdade: a vida está em desequilíbrio
Na tradução mais popularizada, temos que “a vida é sofrimento”. Porém, basta olhar os ensinamentos do Buda para observar que ele jamais definiria uma coisa tão maravilhosa quanto a vida como “sofrimento”.
O que o Buda quis dizer foi que a vida de quem não se conscientiza está fora do eixo, está caminhando para o rumo equivocado, está fora de equilíbrio. É esse desequilíbrio que leva ao sofrimento.
Segunda Nobre Verdade: o desejo fora de hora leva ao sofrimento
“A vida é sofrimento e o que causa o sofrimento é o desejo”. A versão da qual discordamos diz que a causa dos sofrimentos é o desejo. Mas o que seria da vida sem desejos, sem a motivação do crescimento? O homem não teria chegado aonde chegou não fosse seu desejo pelo saber, pelo progresso – com todas as suas conseqüências positivas e negativas.
A razão pela qual nós sofremos é o desejo fora de hora, o hábito de estar sempre querendo antecipar o futuro, querendo mais e mais, sem aproveitar o momento presente.
Se nunca estamos satisfeitos com o momento de agora, estamos sempre querendo alguma outra coisa. Essa é a principal causa do sofrimento. Se estivermos presentes, vivendo completamente o momento presente, não haveria “querer” e “não querer”. Estaria-se em plenitude.Terceira Nobre Verdade: libertar-se do apego ao desejo
A terceira nobre verdade tradicionalmente é contada como a extinção do desejo para o fim do sofrimento. Mas não foi exatamente isso que o Buda falou.
A palavra usada pelo Buda histórico foi nirvana, que significa apagar. Porém, segundo a filosofia do Vedanta, quando se apaga uma chama, diz-se que a chama ficou livre. Quando se acende, captura-se a chama.
Apagar um desejo, nesse sentido, significa libertá-lo. Quando abandonamos o apego ao “eu quero” e “eu não quero”, nossa vida entra em equilíbrio. Estamos, finalmente, livres.
Não apague seus desejos, eles são uma motivação necessária para a vida. Apenas desapegue-se de estar sempre querendo algo mais e deixando de viver o momento presente, deixando de viver a vida.
Quarta Nobre Verdade: o Nobre Caminho Óctuplo
O Nobre Caminho Óctuplo é a maneira pela qual o ser humano pode libertar-se do apego ao desejo. São oito atitudes que devem ser seguidas no dia-a-dia. São instrumentos práticos para colocarmos a nossa vida em equilíbrio. Não há neles nada de místico.
- I. Palavra apropriada
- Você deve apenas falar a verdade. Deve apenas fomentar conversas que causem harmonia e progresso. Deve usar palavras leves, elogiosas e construtivas. Deve somente conversar produtivamente.
- II. Ação apropriada
- Suas ações devem preservar os seres vivos: homens, animais e vegetais. Você deve pegar apenas aquilo que lhe pertence. Deve ser fiel ao companheiro amoroso. Deve ingerir apenas alimentos e bebidas que façam bem à sua saúde.
- III. Meio de vida apropriado
- A profissão escolhida deve ser honesta, para o bem comum e nunca prejudicando e explorando nosso semelhante.
- IV. Esforço apropriado
- Você deve esforçar-se para fazer o bem e consertar o que está equivocado, fora de equilíbrio.
- V. Plena atenção apropriada
- Você deve viver em estado de constante atenção. Atenção com o corpo, com as sensações, com os pensamentos e com os sentimentos.
- VI. Concentração correta
- A concentração é a mente unipolarizada, isto é: mente voltada para um único ponto. Desenvolver a concentração requer que você abra mão do desejo passional e egoísta por todo o prazer sensual e material. Que cultive a alegria, a tranquilidade e o amor. Que mantenha-se ativo e disposto; relaxado e despreocupado; certo do seu objetivo de vida.
- VII. Compreensão apropriada
- Compreender as Quatro Nobres Verdades
- Compreender as três características da existência: O corpo é impermanente, as sensações são impermanentes, as percepções são impermanentes, as formas mentais são impermanentes, e as consciências são impermanentes. E tudo o que é impermanente é sujeito ao sofrimento e mudança. Dessa forma, não se pode dizer “isto pertence a mim” ou “isto é meu”.
- Compreender as ações meritórias (a ação apropriada, a palavra apropriada e o pensamento apropriado) e a raiz dessas ações: renúncia, desapego, boa vontade, benevolência, generosidade, moralidade, meditação, reverência, gratidão, respeito, altruísmo, transferência de mérito, alegria pelo sucesso alheio, ouvir a doutrina, expor a doutrina, ter corretos ponto de vista e compreensão.
- Compreender as ações demeritórias (Pelo corpo: destruir seres vivos, roubar e explorar, adultério, ingerir tóxicos e bebidas alcoólicas. Pelo verbo: mentir e caluniar, levar e trazer conversas, palavras pesadas, duras e ofensivas, tagarelice e conversas frívolas. Pela mente: cobiça-egoísmo, vaidade, má vontade, ódio e raiva, errôneos pontos de vista.) e a raiz dessas ações: cobiça, ódio, ilusão, ignorância, egoísmo.
- VIII. Pensamento apropriado
- São todos os pensamentos que vêm das ações meritórias e que devem ser mantidos em nossa mente o máximo de tempo possível. Quando um pensamento inapropriado – aquele baseado nas ações demeritórias – surgir, deve ser imediatamente substituído por um pensamento apropriado.