Beiras: Anos 50 numa aldeia, com madeiro e sem prendas
O Natal numa aldeia da Beira Interior, sem electricidade, era muito
diferente do que hoje se vê. A maior luz era a das faúlhas que saltavam
do madeiro.
Com madeiro, muito maior do que hoje se arranja para manter a
tradição, e sem as prendas que actualmente também lá fazem a alegria
das crianças, o Natal nesta aldeia da Beira, nos anos 50, era a festa
do Menino Jesus e das filhoses. O Deus Menino motivava um sem número de
histórias contadas à volta do lume, a lareira onde todos se aqueciam e
se cozinhava em bojudas panelas de ferro com três pés e negras como o
alcatrão. Quanto às filhoses, feitas com farinha, água e azeite, eram
fritas em enormes quantidades e constituíam o alimento principal
durante mais de duas semanas. Era difícil haver uma casa onde não se
fizessem filhoses e os que tinham menos sempre iam recebendo-as de
oferta dos mais abastados.
“Leva lá esta bolsa de filhoses”, era o que mais se ouvia da gente
da casa a quem aparecesse de visita ou simplesmente ao
passar diante da porta. Há 40 e tal anos, ainda havia muitas aldeias
sem electricidade e, talvez para deixar entrar a pouca luz dos dias
curtos e muito cinzentos, a porta da rua ficava a maior parte do tempo
pelo menos entreaberta.
Esta ideia, de associar à festa do Natal a Naturesa levou desde os tempos mais antigos os habitantes das aldeias a irem escolher à mata mais proxima o cepo ou madeiro de Natal.
Este era trazido, geralmente, pelos rapazes, que iriam para o serviço militar no proximo ano,e raparigas solteiros, num carro de bois, hoje e nalguns locais, em cima de um tractor. Segundo a tradição, deve ser " roubado", e o dono da mata finge que não percebe e deixa-se roubar...
O tronco do pinheiro, ou castanheiro, é colocado no adro da igreija, onde ficará a arder toda a noite. À saida da missa do Galo, o povo junta-se em roda do brasido, em fraterno convívio, mas alguns lugares usa-se levar para casa algumas achas ou tições para acender a lareira com aquele lume, de certa maneira sagrado.
Tambem se julga que as pinhas meio ardidas da noite de Natal se deviriam de guardar para serem deitadas ao lume durante as noites de trovoada para assim proteger a casa e seus moradores.
Embora não fosse vivo nos anos 50, apanhei a tradição do madeiro durantes os Natais que passei quer nas Beiras quer na zona Norte de Portugal...este sim , é o meu Natal...Nada de consumismos, nada de velhos criados pela Coca-Cola em que se presta vassalagem ás prendinhas e patatis do patatás.
O NATAL É A FESTA DE CRISTO, DA FAMILIA...