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Memória de um Natal passado

Memória de um Natal passado: "
Um dia, de volta por este imenso aglomerado de partilha que é a Internet, dei por mim a ler um artigo de uma memória de um Natal, uma vez que o artigo não refere local a curiosidade levou-me a questionar a autora de seu nome São Teixeira Pereira onde teria sido passado aquele natal. Adivinhem... foi nas Águas.


Desfrutem...

'Um dos natais passados, que mais me marcou, foi o Natal de 1973.
Foi passado na “terra”, como se costuma dizer quando nos referimos à terra dos nossos pais e avós.
Dessa vez foi na casa dos meus avós paternos. Na verdade já só a minha avó era viva, mas esforçou-se por me transmitir todas as tradições do Natal na “terra”. Mesmo aquelas que ela dizia que habitualmente eram levadas a cabo pelo meu avô.
Lembro-me que estava frio, muito muito frio!
Nunca tinha tido tanto frio na minha vida.
Primeiro preparámos o presépio. Para assentar o presépio fomos apanhar musgo nas zonas mais húmidas da horta em frente à casa. Em volta do poço, junto aos muros…
Sempre com muito cuidado para não danificar e despedaçar o musgo. Escolhemos o mais verdinho e macio. Este era um trabalho que a minha avó dizia ser habitualmente levado a cabo pelo meu avô.
Depois, colocámos sacos de lona no chão, de soalho, num canto da sala e dispusemos cuidadosamente o musgo.
Ficou lindo!
Sem fendas!
Completamente uniforme!
Parecia um manto de veludo verde!
Nunca antes tinha imaginado ver tanta beleza num pedaço de musgo.
De seguida foram colocadas as figuras do presépio, e a casinha de palha. Este foi um trabalho da minha avó, pois eu ainda tinha que aprender e era necessário muito cuidado para não quebrar as peças de porcelana antiga, passadas de geração em geração.
Foi um deslumbramento!
E pela tradição da minha avó teria ficado assim, mas o meu pai resolveu acrescentar a árvore. Um pinheirinho verdadeiro que ele próprio foi cortar.
Os efeites da árvore ficaram ao encargo da minha mãe.
Com a minha avó fui então tratar das filhoses. Eu não fiz nada, senão assistir e provar a massa crua. Como eu gostava da massa das filhoses!
(Ainda gosto, mas infelizmente já não tenho a minha avó.)
No fritar das filhoses, era tradição contar-se com a ajuda dos homens da casa, para as virar. Naquele ano foi só o meu pai.
Até me lembro de uma graça que a minha avó me contou relativa a essa tradição.
Perguntou-me ela: “Sabes quando é que a mulher chama porco ao homem?”
R.: “Na noite de Natal”
Claro que eu não percebi nada daquilo e ela explicou: “A mulher está sempre a dizer ao homem para virar as filhoses, antes que se queimem e diz – VIRA, VIRA!”
Pelo que ela me contou também era isso que diziam aos porcos para os fazer afastar da pia quando iam deitar comida na pia!

Enquanto tratávamos das filhoses, a minha mãe preparou a Seia de Natal: Couves, batatas, bacalhau e ovos, tudo cozido.
Mas antes de comer todos estes manjares, chegou a hora da Missa do Galo, onde fomos todos aperaltados, de acordo com a tradição!
À saída da Missa do Galo, mais uma tradição nos aguardava: O Madeiro!
Nunca tinha visto uma fogueira tão grande, ao ar livre e tanta gente a conversar à volta. Saudando-se e desejando-se Boas Festas. Do lado da fogueira muito calor, pelo outro lado muito frio! Depois rodava para aquecer o resto do corpo!
Só depois de saudar todos os familiares, o que numa aldeia significa toda a aldeia, se podia regressar a casa. Para então comer a Consoada!

Durante a noite, enquanto dormia, os presentes foram entregues pelo Menino Jesus, em pessoa. De acordo com a tradição da minha avó!'

Agradecido pela partilha desta memória e autorização para o colocar no blog
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