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Os 10 momentos decisivos que mudaram a história do rock


O que seria do rock sem aquele disco que influenciou todo mundo, aquele show que ninguém esquece, aquele instante em que uma pessoa comum tornou-se o herói dos jovens mundo afora? A seguir, dez melhores momentos dessa história.
Por Giancarlo Lepiani

1. 5 de julho de 1954: Elvis Presley grava ‘That’s All Right’
Era uma segunda-feira à noite na Avenida Union, 706, em Memphis, Tennessee, sul dos Estados Unidos. Um caminhoneiro de 19 anos gravava covers de músicas românticas e sucessos country no estúdio Sun, do empresário Sam Philips. Numa pausa entre as gravações, o jovem músico começou a tocar um velho blues, composição do guitarrista Arthur Crudup. Scotty Moore, na guitarra, e Bill Black, no baixo, o acompanharam -- mas o cantor acelerou o andamento da canção e imprimiu seu próprio estilo à música. Era o início de uma revolução. Elvis Presley, um caipira branco, tocava a música dos negros, mas ao seu próprio modo. E a gravação de That’s All Right, lançada como single exatamente duas semanas depois, entrava para a história -- é considerada o marco inicial do rock, o primeiro registro da música que mudou o mundo.

2. 6 de julho de 1957: o encontro de John Lennon e Paul McCartney
A igreja de St. Paul, em Woolton, subúrbio de Liverpool, na Inglaterra, foi o palco de um show histórico -- não pelo que aconteceu no palco, onde uma banda semi-amadora chamada Quarrymen fez uma apresentação pouco memorável, mas sim por um encontro que aconteceu pouco depois. John Lennon, um dos integrantes do grupo, tinha um amigo chamado Ivan Vaughan -- e Ivan também era amigo de Paul McCartney, que estava na plateia naquele dia. John e Paul foram apresentados, e o resto é história -- engataram uma conversa, descobriram que gostavam das mesmas músicas, ficaram amigos, começaram a tocar juntos, montaram a maior banda de rock do mundo e formaram a melhor dupla de compositores que a música popular já viu.

3. 15 a 17 de agosto de 1969: Woodstock, o maior festival da história
Uma fazenda em Bethel, cidade próxima a Nova York, foi o palco do festival mais famoso da história do rock, o principal marco da geração paz e amor. O festival de Woodstock reuniu cerca de 450.000 pessoas (número muito maior do que se previa, o que transformou a tarefa de organizar a multidão num pesadelo). Além de ouvir música, era a hora de levantar a bandeira da liberalização dos costumes e promover a contracultura. Numa década que assistiu à chegada do homem à Lua e ao assassinato de John Kennedy, entre outros acontecimentos extraordinários, Woodstock é sempre lembrado -- o que mostra o tamanho da importância do festival e a força de suas memórias na geração que viveu essa experiência.

4. 25 de julho de 1965: Bob Dylan em versão elétrica
Ele era o jovem poeta da música americana, um sujeito tímido e misterioso com um violão na mão. Mas em 25 de julho de 1965, Bob Dylan subiu ao palco do Newport Folk Festival, em Rhode Island, em versão “plugada”. Ao invés do violão, segurava uma Fender Stratocaster. E provocou espanto ao ligar os amplificadores e disparar um repertório completamente elétrico num festival conhecido por reunir puristas do folk acústico. O lendário show de Dylan em Newport durou apenas dezenove minutos, tempo suficiente para ele soltar três petardos em altíssimo volume – e sair do palco em meio a gritos e xingamentos. O astro do folk Pete Seeger ficou tão irritado que admitiu: queria ter cortado o fio do microfone de Dylan. Ele ainda voltou ao palco, agora com seu velho violão, para tentar se redimir da ousadia. Mas já era tarde demais: Dylan tinha enfim revelado seu lado rockstar, inaugurando uma fase de sua carreira que influenciou quase todas as bandas surgidas nos anos seguintes.

Julho de 1975: os Ramones inauguram o punk
Um minúsculo clube de Nova York foi palco de uma revolução em julho de 1975 -- e ela durou apenas dezessete minutos. Nesse curto período, quatro garotos de uma banda local tocaram nada menos que vinte músicas. De quebra, inauguraram um dos principais subgêneros do rock. Afinal, é quase consenso que o momento que marcou o início do punk foi justamente a antológica apresentação dos Ramones no CBGB. Parte de um festival que pretendia reunir as 40 melhores bandas desconhecidas de Nova York -- entre elas estavam Blondie, Talking Heads e Television -, o tosco show dos Ramones deixou a plateia desorientada: ninguém entendeu direito. Mas o impacto da apresentação foi tão grande que rendeu à banda um contrato para gravar seu primeiro disco (custo total da gravação 6.400 dólares). Lançado o álbum, os Ramones partiram para uma turnê europeia. A passagem deles por Londres inspirou a criação de bandas como Sex Pistols e Clash -- e deu a partida para o fenômeno do punk rock no mundo.

6. 13 de julho de 1985: o Live Aid arrecada US$ 40 milhões
Hoje, o rock com causas sociais, políticas ou humanitárias virou clichê. Mas não era assim décadas atrás, quando a imagem dos astros do gênero era bem menos respeitável. Tudo mudou em julho de 1985, quando Bob Geldof idealizou o maior festival beneficente da música pop mundial. Realizado em dois continentes, o Live Aid reuniu mais de 60 artistas consagrados para arrecadar dinheiro para os países mais pobres da África. De um lado do Atlântico, no estádio JFK, na Filadélfia, Eric Clapton, Bob Dylan, Beach Boys, Madonna e Robert Plant; do outro, no estádio de Wembley, em Londres, Paul McCartney, David Bowie, Elton John e Queen. O festival arrecadou cerca de 40 milhões de dólares, mas seu maior legado foi outro -- a partir do Live Aid, os grandes astros se convenceram de que não custava nada usar a fama para ajudar os outros.

Janeiro de 1966: Brian Wilson perde a cabeça -- e ganha inspiração
Lembra da décima posição da lista? Pois o próprio Paul McCartney admitiu que Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band foi fortemente influenciado por Pet Sounds, dos Beach Boys. E o álbum mais importante da trajetória da banda, presença inevitável em qualquer ranking de melhores discos da história, surgiu de um drama pessoal de Brian Wilson, o líder do grupo. No início de 1966, enquanto a banda partia para uma turnê no Japão, Wilson ficava em casa -- ele sofrera um colapso nervoso e não conseguia mais fazer shows. Também estava com bloqueio criativo -- e a pressão da gravadora Capitol por um novo álbum só piorava seu estado mental. Foi quando Wilson recebeu em casa o amigo Tony Asher -- um compositor de jingles -- e, com a ajuda dele, começou a esboçar algumas novas canções. Asher mal conseguia acreditar: enquanto ficava cada vez mais pirado (chorava sem parar assistindo ao seriado Flipper e só se alimentava de coquetel de camarão), Wilson escrevia canções cada vez melhores. O disco virou um clássico -- e Brian Wilson acabou conseguindo controlar suas loucuras.
8. 17 de agosto de 1991: Nirvana grava clipe ‘Smells Like Teen Spirit’
No começo dos anos 90, o rock andava mal das pernas: entre as bandas de maior sucesso no rádio e na MTV, reinavam os astros do chamado hair rock, com muita pose (e maquiagem) e pouca música. A década, porém, seria marcada por uma renovação do gênero -- e a faísca inicial desse movimento ocorreu em agosto de 1991, num estúdio de Culver City, na Califórnia. Lá, um trio vindo da chuvosa Seattle, no extremo noroeste dos EUA, gravava o videoclipe de seu primeiro single por uma grande gravadora. Smells Like Teen Spirit, primeira faixa do álbum Nevermind, seria o cartão de visitas do Nirvana fora do meio indie. Dirigido pelo estreante Sam Bayer, o clipe começou a ser exibido de forma quase incessante na MTV americana a partir de outubro de 1991. Em janeiro de 1992, Nevermind já era o álbum mais vendido dos EUA (e, na esteira do fenômeno Nirvana, surgiam para o grande público bandas como Pearl Jam, Soundgarden e Alice in Chains). Desde Smells Like Teen Spirit, o rock recuperou a boa forma -- e é impossível dizer se isso teria acontecido sem o sucesso do clipe.

9. 5 de junho de 1983: o U2 filma seu show mais importante
A banda mais importante dos anos 80 explodiu de vez graças a um show marcado para o anfiteatro Red Rocks, um palco a céu aberto aos pés das Montanhas Rochosas. Mas a apresentação antológica do U2 no local em 1983 quase não aconteceu. Os organizadores queriam cancelar o espetáculo por causa de uma tempestade. O empresário da banda, Paul McGuinness, insistiu -- a banda sonhava em tocar ali e apostava todas as suas fichas no show. Tanto que o U2 colocou dinheiro do próprio bolso -- 25.000 dólares -- para filmar a apresentação. As imagens registradas naquela noite deram origem ao vídeo Under a Blood Red Sky, que virou campeão de vendas -- e o clipe de Sunday Bloody Sunday ao vivo no Red Rocks tornou-se um fenômeno da MTV. A própria banda admite: o extraordinário sucesso internacional do U2 teve em sua origem o show inesquecível de junho de 1983.

10. Junho de 1967: os Beatles lançam ‘Sgt. Pepper’s’
Da famosa capa, criada pelo artista Peter Blake e fotografada por Michael Cooper, às suas treze faixas, gravadas ao longo de 129 dias nos estúdios Abbey Road, em Londres, Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band é o álbum mais influente da história do rock. Seu lançamento teve impacto imediato: as inovações sonoras apresentadas em canções como A Day in the Life e Lucy in the Sky with Diamonds causaram espanto. Mas o disco ficou longe de ser uma obra prima incompreendida por estar muito à frente de seu tempo -- apesar de marcar uma notável evolução, virou grande sucesso em quase todo o mundo. Ruim, só para as outras bandas -- afinal, quem mais conseguiria gravar um álbum tão genial?
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