Martial Art Free Style ... Portuguese Stick Fighting ... O Jogo do pau ...
por Mike Angelo Liveira, quarta, 12 de janeiro de 2011 às 04:37
História
Em muitas sociedades a espada desenvolveu-se como uma arma à qual era atribuído um carácter sagrado, sendo o seu porte apanágio apenas da classe da nobreza guerreira. Aos populares era interdito ou dificultado o seu uso, pelo que este aperfeiçoava habitualmente sistemas de combate alternativos, de mãos nuas ou com recurso às ferramentas do dia-a-dia. Quem está familiarizado com a história do surgimento do karaté (que significa “mãos nuas” em japonês) em Okinawa sabe que se desenvolveu em paralelo o kobudo, que inclui técnicas de uso de foices, paus, matracas que eram usadas como malho, etc... Era com este arsenal que o camponês ou pescador podia defrontar quando necessário os orgulhosos ocupantes samurais, armados com katanas e outras armas de guerra. Também em Portugal o povo desenvolveu um sistema de combate usando como arma o cajado que acompanhava para todo o lado, até há poucos anos, os pastores e camponeses. Este sistema veio a ser conhecido pelo nome de Jogo do Pau, tendo aqui a palavra “jogo” não o sentido de “brincadeira”, mas o de “técnica” ou “manejo”.
Já bem dentro do século XX eram ainda frequentes por Portugal inteiro, mas com destaque para o norte do país, os combates de pau nas feiras e romarias. Por vezes envolviam estas rixas aldeias inteiras, outras vezes as lutas eram individuais, ou de um jogador contra vários. Era o tempo dos “puxadores” (nome que se dava aos jogadores do Norte) e dos “varredores de feiras” (jogadores afamados que se deslocavam às feiras e romarias para desafiarem outros, provando assim o seu valor através da vitória contra todos). Mestre Monteiro, originário da região de Fafe, conta que no tempo da juventude de seu pai havia duas povoações que frequentavam ao Domingo a mesma capela, levando, como era de tradição, cada homem ou moço a sua vara, de tal forma que quando se ajoelhavam na missa se viam todos os paus em posição vertical saindo acima das cabeças. Depois da cerimónia era frequente, num largo ali perto, haver conflitos entre os rapazes das duas aldeias, que começavam por qualquer pequena razão (um piropo a uma rapariga da aldeia vizinha, os ciúmes de um enamorado preterido por outro, uma discussão por causa de canais de irrigação...) e que se resolviam à paulada. Mas não se pense que era o combate destituído de regras. Havia um código ético, que proibia aos lutadores baterem em homem que não levasse pau, ou que estivesse por terra. Ainda se contam nos círculos da modalidade histórias antigas como a do “Manilha”, que depois de vencer e desarmar três atacantes que o haviam emboscado, atirou o pau ao chão. Ou a de um jogador de grande talento do Porto, chamado Carvalho, feirante de gado, que na Feira dos 26 em Angeja, perto de Aveiro, conseguiu aguentar-se sozinho contra um grupo que o atacava, até que tropeçou e caiu para o chão, e nessa altura o melhor jogador dos adversários saltou para o seu lado, pronto a defendê-lo, dizendo aos seus companheiros que quem pretendesse bater no valente caído tinha que lutar primeiro consigo. Também na literatura podemos encontrar histórias sobre o jogo do pau, nomeadamente em autores como Aquilino Ribeiro e Miguel Torga. A partir dos anos 30 o jogo do pau começou a perder importância. Os motivos são vários: a acção das autoridades policiais, que para evitar lutas sangrentas passaram a proibir o uso dos paus dentro dos recintos das feiras; a emigração de muitos homens para os meios urbanos ou para o estrangeiro; a generalização do uso de armas de fogo, que tornou desnecessária a aprendizagem demorada e difícil desta técnica para a defesa pessoal.
Escola do Ateneu 8)))))))))))))) bons tempos (((((((((((((8
Escolas do Jogo do Pau
Mestres famosos
Ao longo da história do jogo do pau foram muitos os mestres que deixaram fama pelas diferentes regiões do país. Citemos alguns: Mestre António Nunes Caçador, Mestre Frederico Hopffer, Mestre Júlio Hopffer, Mestre Joaquim Baú, Mestres Calado Campos, pai e filho, Mestre Chula, Mestre Custódio Neves, Mestre Pedro Ferreira, Mestre Elias Gameiro, Mestre Nuno Russo, Mestre Manuel Monteiro, e um largo etc... O nome de Mestre Pedro Ferreira (n. 26 de Março de 1915 – f. 24 de Setembro de 1996) destaca-se pelo extraordinário desenvolvimento técnico que levou a cabo, combinando as Escolas do Norte e de Lisboa, de ambas profundo conhecedor. Foram seus discípulos muitos dos actuais mestres em actividade. Continuou a jogar o pau durante toda a sua vida, sendo considerado um dos mais exímios jogadores até ao seu falecimento. Era ele o Mestre do Ateneu Comercial de Lisboa, tendo nos últimos anos passado essa responsabilidade para o Mestre Manuel Monteiro, seu sucessor.
Organização e desenvolvimento na actualidade