Texto retirado do Blog Sound+Vision
Grande parte da obra sinfónica e duas peças de música coral de Bruckner em gravações históricas pela Filarmónica de Munique, sob direcção de Sergiu Celibidache numa caixa de 12 CD. Um dos grandes lançamentos do ano, com o selo EMI Classics.
Não gostava de discos. Ou, melhor, de ser gravado e ver o seu trabalho transformado em discos. Pelo que, para Sergiu Celibidache (1912-1996), a apresentação ao vivo era “o” momento em que a obra ganhava vida pela orquestra, de cada concerto tentando fazer uma “experiência transcendental”. Única. Assim era, valendo ao mundo que não viveu os momentos que dirigiu a multidão de gravações que, registadas ao vivo, chegaram a disco postumamente confirmando no maestro romeno um caso ímpar entre os seus pares. Inspirado e motivado pela descoberta de certas características do budismo, Celibidache era conhecido não apenas pela exigência superlativa em ensaios longos e sucessivos, como pela forma muito pessoal de entender a leitura das obras que abordava. Os seus andamentos lentos eram frequentemente mais lentos (e extensos) que o habitual, assim como os rápidos se tornavam ocasiões de exultante celebração. Foi o maestro principal da Filarmónica de Berlim de 1945 a 1952 (antecendendo um breve regresso de Furtwangler e o longo consulado de Karajan) e teve na Filarmónica de Munique a sua mais longa posição como director, lugar que desempenhou de 1979 até 1996. É desse período que datam as gravações desta caixa que junta grande parte da obra sinfónica de Anton Bruckner(1824-1896), a ela juntando o magnífico Te Deum e a Missa Nº 3 em Fá menor.
Anton Bruckner é um pouco, e tal como Celibidache, um caso de alma ímpar entre os seus pares. De origem austríaca, é uma das vozes maiores da etapa final do romantismo, na sua música coexistindo ecos de experiências anteriores (das formas desenvolvidas por Beethoven a um apurado sentido de melodismo como se escutava em Brahms) e visões algo radicais para o seu tempo (uma noção Wagneriana de arranjo e desenvolvimento das ideias habitando a sua música). Foi denegrido por muitos, tendo contudo no seu contemporâneo Gustav Mahler (com quem a dimensão maior da sua obra tem afinidades) um dos seus grandes amigos e admiradores. A obra sinfónica de Bruckner reflecte uma demanda de horizontes maiores. Extensas, complexas e envolventes, abriram caminho não apenas à música de Mahler e Sibelius, mas até de uma primeira etapa na obra de Schoenberg. Nesta série de gravações dirigidas por Celibidache (captadas entre 1987 e 1995) é evidente o profundo relacionamento do maestro com esta música, a soberba interpretação da Sinfonia Nº 9 (cujo andamento lento antecipa caminhos que pouco depois encontraremos em Mahler) sublinhando a assombrosa visão na qual o compositor trabalha (mas que não chegaria a terminar). São ainda magníficas as abordagens às duas obras corais aqui registadas, que sublinham outra das áreas onde a obra de Bruckner (um profundo devoto) foi particularmente fecunda.
Grande parte da obra sinfónica e duas peças de música coral de Bruckner em gravações históricas pela Filarmónica de Munique, sob direcção de Sergiu Celibidache numa caixa de 12 CD. Um dos grandes lançamentos do ano, com o selo EMI Classics.
Não gostava de discos. Ou, melhor, de ser gravado e ver o seu trabalho transformado em discos. Pelo que, para Sergiu Celibidache (1912-1996), a apresentação ao vivo era “o” momento em que a obra ganhava vida pela orquestra, de cada concerto tentando fazer uma “experiência transcendental”. Única. Assim era, valendo ao mundo que não viveu os momentos que dirigiu a multidão de gravações que, registadas ao vivo, chegaram a disco postumamente confirmando no maestro romeno um caso ímpar entre os seus pares. Inspirado e motivado pela descoberta de certas características do budismo, Celibidache era conhecido não apenas pela exigência superlativa em ensaios longos e sucessivos, como pela forma muito pessoal de entender a leitura das obras que abordava. Os seus andamentos lentos eram frequentemente mais lentos (e extensos) que o habitual, assim como os rápidos se tornavam ocasiões de exultante celebração. Foi o maestro principal da Filarmónica de Berlim de 1945 a 1952 (antecendendo um breve regresso de Furtwangler e o longo consulado de Karajan) e teve na Filarmónica de Munique a sua mais longa posição como director, lugar que desempenhou de 1979 até 1996. É desse período que datam as gravações desta caixa que junta grande parte da obra sinfónica de Anton Bruckner(1824-1896), a ela juntando o magnífico Te Deum e a Missa Nº 3 em Fá menor.
Anton Bruckner é um pouco, e tal como Celibidache, um caso de alma ímpar entre os seus pares. De origem austríaca, é uma das vozes maiores da etapa final do romantismo, na sua música coexistindo ecos de experiências anteriores (das formas desenvolvidas por Beethoven a um apurado sentido de melodismo como se escutava em Brahms) e visões algo radicais para o seu tempo (uma noção Wagneriana de arranjo e desenvolvimento das ideias habitando a sua música). Foi denegrido por muitos, tendo contudo no seu contemporâneo Gustav Mahler (com quem a dimensão maior da sua obra tem afinidades) um dos seus grandes amigos e admiradores. A obra sinfónica de Bruckner reflecte uma demanda de horizontes maiores. Extensas, complexas e envolventes, abriram caminho não apenas à música de Mahler e Sibelius, mas até de uma primeira etapa na obra de Schoenberg. Nesta série de gravações dirigidas por Celibidache (captadas entre 1987 e 1995) é evidente o profundo relacionamento do maestro com esta música, a soberba interpretação da Sinfonia Nº 9 (cujo andamento lento antecipa caminhos que pouco depois encontraremos em Mahler) sublinhando a assombrosa visão na qual o compositor trabalha (mas que não chegaria a terminar). São ainda magníficas as abordagens às duas obras corais aqui registadas, que sublinham outra das áreas onde a obra de Bruckner (um profundo devoto) foi particularmente fecunda.