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Bernard Herrmann (antes do cinema)



A Chandos (que nos últimos anos tem editado várias obras de Nino Rota exteriores ao seu trabalho para cinema) apresenta neste disco a cantata Moby Dick e a Sinfonietta, de Bernard Herrmann, obras dos anos 30, anteriores às suas primeiras experiências para o grande ecrã.


Ao escutarmos o nome de Bernard Herrmann é quase inevitável que o associemos ao cinema, tão marcante que foi o trabalho que o compositor registou com vários realizadores – sobretudo Alfred Hitchcock, para quem assinou bandas sonoras hoje com estatuto de “clássicos” como A Intriga Internacional ou Psico – desde que, em 1940, Orson Welles o convidou para compor a música para O Mundo a Seus Pés. Tinham já trabalhado juntos em produções de teatro radiofónico, Herrmann tendo então o pólo central do seu trabalho junto da orquestra da CBS que servia sobretudo essas mesmas funções. Filho de emigrantes russos, Herrmann nasceu em Nova Iorque e cedo encontrou na música o seu principal interesse. Arranjava maneira de assistir aos ensaios no Carnegie Hall e na Public Library na 5ª Avenida consultava as partituras das obras daqueles que mais admirava, sobretudo Charles Ives, o “pai” da música americana. Nos livros encontrava outro dos destinos do seu tempo, em Moby Dick, o romance de 1851 de Hermann Melville, descobrindo uma das histórias mais marcantes entre as que leu nesse período. O tempo fez com que esses dois caminhos se cruzassem. O da música. O do livro de Melville. E em finais dos anos 30, ainda o cinema não morava entre os seus horizontes profissionais, Herrmann lançou mãos à obra: ia criar uma adaptação de Moby Dick.


Começou por ter uma ópera em mente mas, das reuniões de trabalho com William Clark, que escreveria o libreto, nasceu a ideia de criar antes uma cantata. Visitaram ambos a região no Massachussets que inspirara o texto original de Melville e em 1938, dois anos depois da primeira ideia, uma cantata para vozes masculinas estava terminada, sendo estreada algum tempo depois por John Barbirolli, frente à New York Philharmonic (estávamos Abril de 1940). Entre a plateia de uma das poucas apresentações públicas que a cantata então conheceu estava o (então) jovem compositor britânico Benjamin Britten (que pouco depois encontraria num cenário entre pescadores o caminho para Peter Grimes, uma das suas mais aclamadas óperas). Outra referência musical mora directamente na partitura de Moby Dick: uma dedicatória a Charles Ives, cuja herança de certa forma habita entre os caminhos por onde segue esta música onde, todavia, Herrmann recorre a soluções dramáticas quer escutadas na tradição da música de palco quer encontradas na escrita com medula narrativa que então criava para as produções radiofónicas.


Esta presente edição da Chandos, com interpretação pela Danish National Symphony Orchestra, dirigida por Michael Schonwandt, junta a Moby Dick a peça orquestral composta entre 1935 e 36 a que Herrmann simplesmente chamou Sinfonietta. Contemporânea do mesmo período de trabalho na rádio, a Sinfonietta revela contudo uma pontual atenção para os caminhos que a música tomara entre os seguidores de Schoenberg (que depois não teriam grande expressão na sua obra posterior). Esta gravação corresponde à estreia em disco da versão original da Sinfonietta que Hermann revisitou por volta de 1960 quando trabalhava em Psico e que transformou em 1975 quando preparava um projeto de gravações da sua música para concertos.


Com esta gravação a Chandos abre importante janela de (re)descoberta para a obra que Herrmann criou para lá do grande ecrã. Se a ideia da editora é a de seguir o modelo de lançamentos através dos quais nos últimos anos nos deu a conhecer o mundo da escrita sinfónica e concertante de Nino Rota, vale a pena estarmos atentos às cenas dos próximos capítulos...
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