http://www.portaldoastronomo.org/
As séries Saros, surgiram na Babilônia e possuem 70 eclipses cada.
Começando em um dos pólos da Terra, seguindo até o outro. Os eclipses iniciam parciais e a medida que aproximam-se da linha do Equador tornam-se totais. Quando aproximam-se do Pólo oposto, voltam a tornar-se parciais. No caso dos eclipses solares ainda existem os do tipo anulares.
Eclipses da mesma série Saros ocorrem em média a cada 18 anos. Quando um eclipse da série saros é demasiadamente longo, tem-se a impressão de que a série Inex será desfeita.
Para os primeiros hominídeos que habitaram o nosso planeta, certamente todos os fenómenos naturais que se passavam à sua volta estariam ligados ao misticismo e às múltiplas divindades que cada um ia construindo na sua mente. A aparente regularidade dos movimentos no céu era algumas vezes quebrada de forma brutal e apenas explicável com o divino: umas vezes o Sol escurecia-se durante longos e infindáveis minutos, de outras era a Lua que “desaparecia” para logo em seguida adquirir uma cor “ensanguentada”. Não será difícil para nós imaginar o terror que este tipo de fenómenos, com origem na “ira divina”, infligiriam sobre os seus observadores.
A memória colectiva dos povos nómadas que habitavam o planeta era muito reduzida e difícil de transmitir entre gerações, consequência dos seus movimentos constantes em busca de meios de subsistência. Por outro lado as subsequentes civilizações sedentárias que se seguiram, adoptando um estilo de vida centrado num determinado local, tornaram possível a transmissão dos registos daqueles raros fenómenos, geração após geração, observando-se assim que estes aconteciam repetidamente, embora de forma irregular.
Dos registos efectuados pelos Chineses, cerca do ano 2.000 a.C. (a data exacta do primeiro registo de observação de um eclipse não é consensual entre os historiadores), passando pelo mítico poder que o céu exerceu sobre as civilizações Gregas e Egípcias, muitas foram as civilizações que procuraram estabelecer padrões que permitissem explicar a ocorrência dos eclipses lunares e solares. A exactidão dos cálculos astronómicos efectuados pela civilização Maia (séc. IV a IX d.C.) permitia-lhes prever a ocorrência de eclipses com precisão de até um minuto.
Muito antes da época em que viveram os Maias, os Caldeus (612 a.C. – 539 a.C.), que habitaram na Mesopotâmia, conheciam um período em que os eclipses lunares (também aplicável aos eclipses solares) pareciam repetir-se: o ciclo de Saros.
O ciclo de Saros é um período com aproximadamente 6.585,3 dias (18 anos, 11 dias e 8 horas). O período de Saros nasce de uma harmonia natural entre os três períodos orbitais da Lua:
É espantoso pensar no grau de conhecimento científico que esta civilização já havia atingido há 2.500 anos.
Fig.7: A Terra em órbita do Sol e a Lua em órbita em torno da Terra. Para que os eclipses no topo da imagem se possam repetir, será necessário atingir a mesma configuração dos astros. Por sinal, isto acontece aproximadamente cada 18 anos.
De forma semelhante, a mesma fase da Lua apenas se repete após 29,53 dias, a que chamamos um mês sinódico. Devido à regressão do nodo lunar, o Sol leva 346,62 dias para voltar ao mesmo nodo, ou seja, um pouco menos que um ano trópico. Embora fora de uso, a este período chamamos um "ano de eclipses" ou ciclo de eclipses.
Assim, para que o mesmo eclipse se possa repetir, é necessário que tanto o número de meses dracónicos (mesmo posição no nodo), o dos meses sinódicos (mesma fase) e do ciclo de eclipses (mesma posição relativa do Sol) seja um número inteiro. Como tal, para a repetição da constelação e das circunstâncias são precisos, no mínimo:
223 meses sinódicos = 6585, 35 dias
e
242 meses dracónicos = 6858,32 dias
ou
19 ciclos de eclipses = 6585,78 dias
e ainda
239 meses anomalísticos (=tempo entre dois perigeus) = 6585,54 dias
Os antigos Caldeus, um povo que viveu na Mesopotâmia cerca 2000 anos antes da nossa era e que dominou a Babilónia e Assíria até o ano 539 AC, registaram com muito cuidado as datas de todos os eclipses e também chegaram à conclusão, que a sequência de eclipses se repetia sucessivamente após cerca 6585 dias. Este período, os Caldeus chamaram um Saros, o que no seu idioma era um derivado da palavra "repetição".
Apesar de os povos antigos inicialmente não saberem nada da causa que provoca os eclipses solares e lunares, tanto os Chineses, como os Caldeus e mais tarde os Babilónios, conseguiram, graças a esta repetição, prever com bastante exactidão as datas da sua ocorrência. Desde então, e até terem sido descobertos meios matemáticos mais fiáveis, o ciclo de Saros serviu de meio de previsão dos eclipses também no mundo ocidental.
Infelizmente, esta repetição dos eclipses não é perpétua. Devido às pequenas discrepâncias entre a duração dos meses sinódicos e dracónicos e do ciclo de eclipses (ver os valores acima), os múltiplos desses intervalos divergem após vários ciclos e levam a que as condições dos eclipses se alterem lenta e gradualmente. Por consequência, após um certo tempo acontece, que um dado eclipse sai do ciclo de Saros, enquanto outro eclipse se junta ao mesmo. Por sinal, o ciclo de Saros não permite prever a entrada e saída dos eclipses no ciclo. Isto foi particularmente fatal, segundo as lendas, para os astrónomos chineses Hi e Ho, os quais foram executados, porque não tinham previsto o eclipse do dia 22 de Outubro 2137 AC. Felizmente, hoje em dia, ser Astrónomo já não é uma profissão de risco.
Normalmente um eclipse lunar mantém-se durante cerca 1000 anos dentro do ciclo de Saros, enquanto um eclipse do Sol se mantém em média durante 1200 anos. O eclipse parcial do Sol que se verifica no dia 14 de Outubro 2004, ou seja, 10 dias antes do eclipse lunar do mesmo mês e apenas visível no Nordeste da Ásia, começou como um eclipse parcial de fase crescente no dia 6 de Março 1049. Depois este seguiu ao longo do ciclo de Saros com oito eclipses parciais de fase crescente desde 1067 até 1193. A partir de 1211 até 1986 este eclipse mostrou-se como eclipse total. E com o eclipse parcial desde ano começa a fase decrescente com nove eclipses parciais. O último desses eclipses dar-se-á no ano 2149 (9 de Janeiro) terminando assim a sua presença no ciclo.
Fosse para explicar actos divinos ou para prever a sua ocorrência com exactidão, os eclipses possuíram desde sempre um papel importante no conhecimento das civilizações. Mas não ficamos por aqui.
“O mundo moderno começou em 29 de Maio de 1919, quando fotografias de um eclipse solar, tiradas na ilha do Príncipe, na África Ocidental, e em Sobral, no Brasil, confirmaram a verdade da nova teoria do universo.”
Paul Johnson, historiador inglês
Albert Einstein (1879-1955). Imagem de domínio público.
Em 1905, o então jovem funcionário do departamento de registo de patentes de Berna, Albert Einstein (1879-1955), anunciou ao mundo a sua Teoria da Relatividade, estabelecendo como um dos princípios básicos dessa teoria o princípio da equivalência entre o movimento uniformemente acelerado e a acção da gravidade. De acordo com este princípio, a gravidade provoca uma deformação do espaço em torno dos objectos. Transpondo esta ideia para o espaço, quando a luz passa próximo de corpos celestes com massa elevada, tal como o Sol, a deformação do espaço provoca um encurvamento dos raios luminosos. Em 1911 Einstein reparou que este encurvamento da luz deveria poder ser observado durante um eclipse solar total, pois nesse momento podemos observar e fotografar a luz das estrelas que se posicionam junto ao seu bordo. Se algum tempo depois voltarmos a fotografar essas mesmas estrelas durante a noite, poderemos comparar se existe deslocação aparente da sua posição e assim inferir a deformação do espaço perto da nossa estrela.
Para confirmar a “curvatura da luz” e, consequentemente, a Teoria da Relatividade, foram organizadas algumas expedições científicas. Seguindo as previsões de eclipses solares totais, grupos de cientistas deslocaram-se para localizações específicas, mas a maioria das tentativas foram frustradas. Uma expedição alemã, em 1914, foi impedida de se deslocar por questões políticas e o mau tempo atrapalhou uma outra equipa argentina no ano de 1916.
Foi previsto um novo eclipse solar total para o dia 29 de Maio de 1919. Os locais que se afiguraram com melhores condições geográficas foram os escolhidos para receberem as expedições organizadas para o efeito. Foram enviadas duas equipas de astrónomos britânicos: uma para Sobral, no Brasil e outra, liderada por Arthur Eddington, para a ilha do Príncipe. Apesar das condições meteorológicas adversas que ambas as missões defrontaram no dia do eclipse, foi possível obter um número aceitável de placas fotográficas a partir dos dois locais de observação. Naquelas placas eram visíveis estrelas no bordo do disco solar eclipsado. As equipas realizaram posteriormente novas placas do céu nocturno quando as mesmas estrelas já eram visíveis de noite. Eddington mediu cuidadosamente a posição das estrelas nas placas fotográficas e detectou um deslocamento na luz das estrelas. Mais tarde viria a recordar aqueles momentos como os mais importantes da sua vida.
Em 6 de Novembro de 1919 os resultados foram apresentados publicamente, comprovando a Teoria da Relatividade de Albert Einstein.
A Teoria da Relatividade estava comprovada. Confirmava-se a existência de uma nova teoria do Universo. O mundo nunca mais voltaria a ser o mesmo.
As séries Saros, surgiram na Babilônia e possuem 70 eclipses cada.
Começando em um dos pólos da Terra, seguindo até o outro. Os eclipses iniciam parciais e a medida que aproximam-se da linha do Equador tornam-se totais. Quando aproximam-se do Pólo oposto, voltam a tornar-se parciais. No caso dos eclipses solares ainda existem os do tipo anulares.
Eclipses da mesma série Saros ocorrem em média a cada 18 anos. Quando um eclipse da série saros é demasiadamente longo, tem-se a impressão de que a série Inex será desfeita.
- Descrição
Para os primeiros hominídeos que habitaram o nosso planeta, certamente todos os fenómenos naturais que se passavam à sua volta estariam ligados ao misticismo e às múltiplas divindades que cada um ia construindo na sua mente. A aparente regularidade dos movimentos no céu era algumas vezes quebrada de forma brutal e apenas explicável com o divino: umas vezes o Sol escurecia-se durante longos e infindáveis minutos, de outras era a Lua que “desaparecia” para logo em seguida adquirir uma cor “ensanguentada”. Não será difícil para nós imaginar o terror que este tipo de fenómenos, com origem na “ira divina”, infligiriam sobre os seus observadores.
A memória colectiva dos povos nómadas que habitavam o planeta era muito reduzida e difícil de transmitir entre gerações, consequência dos seus movimentos constantes em busca de meios de subsistência. Por outro lado as subsequentes civilizações sedentárias que se seguiram, adoptando um estilo de vida centrado num determinado local, tornaram possível a transmissão dos registos daqueles raros fenómenos, geração após geração, observando-se assim que estes aconteciam repetidamente, embora de forma irregular.
Dos registos efectuados pelos Chineses, cerca do ano 2.000 a.C. (a data exacta do primeiro registo de observação de um eclipse não é consensual entre os historiadores), passando pelo mítico poder que o céu exerceu sobre as civilizações Gregas e Egípcias, muitas foram as civilizações que procuraram estabelecer padrões que permitissem explicar a ocorrência dos eclipses lunares e solares. A exactidão dos cálculos astronómicos efectuados pela civilização Maia (séc. IV a IX d.C.) permitia-lhes prever a ocorrência de eclipses com precisão de até um minuto.
Muito antes da época em que viveram os Maias, os Caldeus (612 a.C. – 539 a.C.), que habitaram na Mesopotâmia, conheciam um período em que os eclipses lunares (também aplicável aos eclipses solares) pareciam repetir-se: o ciclo de Saros.
O ciclo de Saros é um período com aproximadamente 6.585,3 dias (18 anos, 11 dias e 8 horas). O período de Saros nasce de uma harmonia natural entre os três períodos orbitais da Lua:
- O mês sinódico (de Lua nova a Lua nova) que dura 29 dias, 12 horas e 44 minutos;
- O mês dracónico (de nodo a nodo) que dura 27 dias, 5 horas e 6 minutos;
- O mês anomalístico (de perigeu a perigeu) que dura 27 dias, 13 horas e 19 minutos.
É espantoso pensar no grau de conhecimento científico que esta civilização já havia atingido há 2.500 anos.
- Saros?
Fig.7: A Terra em órbita do Sol e a Lua em órbita em torno da Terra. Para que os eclipses no topo da imagem se possam repetir, será necessário atingir a mesma configuração dos astros. Por sinal, isto acontece aproximadamente cada 18 anos.
De forma semelhante, a mesma fase da Lua apenas se repete após 29,53 dias, a que chamamos um mês sinódico. Devido à regressão do nodo lunar, o Sol leva 346,62 dias para voltar ao mesmo nodo, ou seja, um pouco menos que um ano trópico. Embora fora de uso, a este período chamamos um "ano de eclipses" ou ciclo de eclipses.
Assim, para que o mesmo eclipse se possa repetir, é necessário que tanto o número de meses dracónicos (mesmo posição no nodo), o dos meses sinódicos (mesma fase) e do ciclo de eclipses (mesma posição relativa do Sol) seja um número inteiro. Como tal, para a repetição da constelação e das circunstâncias são precisos, no mínimo:
223 meses sinódicos = 6585, 35 dias
e
242 meses dracónicos = 6858,32 dias
ou
19 ciclos de eclipses = 6585,78 dias
e ainda
239 meses anomalísticos (=tempo entre dois perigeus) = 6585,54 dias
Os antigos Caldeus, um povo que viveu na Mesopotâmia cerca 2000 anos antes da nossa era e que dominou a Babilónia e Assíria até o ano 539 AC, registaram com muito cuidado as datas de todos os eclipses e também chegaram à conclusão, que a sequência de eclipses se repetia sucessivamente após cerca 6585 dias. Este período, os Caldeus chamaram um Saros, o que no seu idioma era um derivado da palavra "repetição".
Apesar de os povos antigos inicialmente não saberem nada da causa que provoca os eclipses solares e lunares, tanto os Chineses, como os Caldeus e mais tarde os Babilónios, conseguiram, graças a esta repetição, prever com bastante exactidão as datas da sua ocorrência. Desde então, e até terem sido descobertos meios matemáticos mais fiáveis, o ciclo de Saros serviu de meio de previsão dos eclipses também no mundo ocidental.
Infelizmente, esta repetição dos eclipses não é perpétua. Devido às pequenas discrepâncias entre a duração dos meses sinódicos e dracónicos e do ciclo de eclipses (ver os valores acima), os múltiplos desses intervalos divergem após vários ciclos e levam a que as condições dos eclipses se alterem lenta e gradualmente. Por consequência, após um certo tempo acontece, que um dado eclipse sai do ciclo de Saros, enquanto outro eclipse se junta ao mesmo. Por sinal, o ciclo de Saros não permite prever a entrada e saída dos eclipses no ciclo. Isto foi particularmente fatal, segundo as lendas, para os astrónomos chineses Hi e Ho, os quais foram executados, porque não tinham previsto o eclipse do dia 22 de Outubro 2137 AC. Felizmente, hoje em dia, ser Astrónomo já não é uma profissão de risco.
Normalmente um eclipse lunar mantém-se durante cerca 1000 anos dentro do ciclo de Saros, enquanto um eclipse do Sol se mantém em média durante 1200 anos. O eclipse parcial do Sol que se verifica no dia 14 de Outubro 2004, ou seja, 10 dias antes do eclipse lunar do mesmo mês e apenas visível no Nordeste da Ásia, começou como um eclipse parcial de fase crescente no dia 6 de Março 1049. Depois este seguiu ao longo do ciclo de Saros com oito eclipses parciais de fase crescente desde 1067 até 1193. A partir de 1211 até 1986 este eclipse mostrou-se como eclipse total. E com o eclipse parcial desde ano começa a fase decrescente com nove eclipses parciais. O último desses eclipses dar-se-á no ano 2149 (9 de Janeiro) terminando assim a sua presença no ciclo.
Fosse para explicar actos divinos ou para prever a sua ocorrência com exactidão, os eclipses possuíram desde sempre um papel importante no conhecimento das civilizações. Mas não ficamos por aqui.
“O mundo moderno começou em 29 de Maio de 1919, quando fotografias de um eclipse solar, tiradas na ilha do Príncipe, na África Ocidental, e em Sobral, no Brasil, confirmaram a verdade da nova teoria do universo.”
Paul Johnson, historiador inglês
Albert Einstein (1879-1955). Imagem de domínio público.
Para confirmar a “curvatura da luz” e, consequentemente, a Teoria da Relatividade, foram organizadas algumas expedições científicas. Seguindo as previsões de eclipses solares totais, grupos de cientistas deslocaram-se para localizações específicas, mas a maioria das tentativas foram frustradas. Uma expedição alemã, em 1914, foi impedida de se deslocar por questões políticas e o mau tempo atrapalhou uma outra equipa argentina no ano de 1916.
Foi previsto um novo eclipse solar total para o dia 29 de Maio de 1919. Os locais que se afiguraram com melhores condições geográficas foram os escolhidos para receberem as expedições organizadas para o efeito. Foram enviadas duas equipas de astrónomos britânicos: uma para Sobral, no Brasil e outra, liderada por Arthur Eddington, para a ilha do Príncipe. Apesar das condições meteorológicas adversas que ambas as missões defrontaram no dia do eclipse, foi possível obter um número aceitável de placas fotográficas a partir dos dois locais de observação. Naquelas placas eram visíveis estrelas no bordo do disco solar eclipsado. As equipas realizaram posteriormente novas placas do céu nocturno quando as mesmas estrelas já eram visíveis de noite. Eddington mediu cuidadosamente a posição das estrelas nas placas fotográficas e detectou um deslocamento na luz das estrelas. Mais tarde viria a recordar aqueles momentos como os mais importantes da sua vida.
Em 6 de Novembro de 1919 os resultados foram apresentados publicamente, comprovando a Teoria da Relatividade de Albert Einstein.
A Teoria da Relatividade estava comprovada. Confirmava-se a existência de uma nova teoria do Universo. O mundo nunca mais voltaria a ser o mesmo.