do SPACE MONSTER
Faixas:
1. Prelude and Outer Space
2. Radar
3. Danger
4. Klaatu
5. Gort
6. The Visor
7. The Telescope
8. Escape
9. Solar Diamonds
10. Arlington
11. Lincoln Memorial
12. Nocturne
13. The Flashlight
14. The Robot
15. Space Control
16. The Elevator
17. The Magnetic Pull
18. The Study
19. The Conference
20. The Jeweler
21. 12:30
22. Panic
23. The Glowing
24. Alone
25. Gort’s Rage
26. Nikto
27. Captive
28. Terror
29. The Prison
30. Rebirth
31. Departure
32. Farewell
33. Finale
COMENTÁRIOS
A
música para filmes de ficção científica tradicionalmente se classifica
em uma de duas categorias: a primeira usa instrumentos eletrônicos
(exclusivamente ou combinados com a orquestra), para criar um intenso
mas quase frio som que mantém a audiência distante da ação; a segunda
emprega uma orquestra de proporções “wagnerianas”, movimentos arrastados
e grandes leitmotifs que levam os espectadores a uma aventura
interestelar. As partituras de John Williams para Star Wars
estabeleceram o molde para esta segunda categoria, mas para muitos
cinéfilos, especialmente aqueles criados nos anos 1950, é o primeiro
estilo que define o sci fi sound. O Dia em que a Terra Parou, de Bernard
Herrmann, é o protótipo do primeiro estilo e pode-se dizer que, de
muitos modos, o inaugurou. Um dos primeiros trabalhos de Herrmann em
Hollywood, ele demonstra a sua fascinação por cores tonais afiadas
interpretadas por grupos de instrumentos inovadores.
Para
este filme o maestro utilizou um conjunto de três trompetes e
trombones, quatro tubas, um sopro, dois órgãos Hammond, dois pianos,
violino elétrico, violoncelos, contrabaixos, uma bateria de percussão
completa e dois theremins. O theremin (para quem ainda não sabe) é um
pioneiro instrumento eletrônico tocado movendo as mãos em volta de duas
antenas. A localização da mão do músico muda a oscilação do sinal
eletrônico, quase como se ele estivesse manipulando, em um daqueles
rádios antigos, o zumbido ouvido entre as freqüências de duas estações. O
resultado é um som “extraterrestre” que sobe e desce, como uma
fantasmagórica voz humana em tom alto. Na visão de Herrmann, o
instrumento representa os visitantes alienígenas Klaatu e seu robô Gort.
O par de theremins, juntamente com outros instrumentos eletrônicos,
foram geralmente agrupados em contraste com os sons mais tradicionais
dos metais (os quais tocam frases tristes ou fanfarras militares) e
pianos.
O
resultado é uma sonoridade “de outro mundo”, que simboliza os embates
entre cientistas, militares e visitantes alienígenas. Na música de
abertura, “Prelude and Outer Space,” Herrmann inicia em um grande
volume, introduzindo o tema principal com um glissando, seguido por um
tema ascendente dos metais (sombras de “Also Sprach Zarathustra”). Os
theremins finalmente entram em cena com sua sonoridade assombrada,
ondulando a melodia antes de que todo o processo seja revertido (com os
theremins ficando em um ponto intermediário). A faixa inicia do modo
como começou, com um grande volume da orquestra mas também com um último
acorde de theremin, indicando o modo como o filme se encerrará.
Este
brilhante score, um marco na história da música do cinema, foi
carinhosamente regravado por Joel McNeely para a série Film Score
Classics da Varèse Sarabande, e lançado em 2003 praticamente junto com o
filme em DVD (nos EUA). Esta edição, em relação às gravações originais
da versão cinematográfica editada em CD nos anos 1990 pela Fox,
apresenta como vantagens a qualidade de áudio muito superior e uma
interpretação afinadíssima dos theremins. Mesmo assim as gravações
históricas de Herrmann são indispensáveis, até porque foram utilizadas
pela Fox como música de arquivo nas clássicas séries de Irwin Allen dos
anos 1960 (especialmente em Perdidos no Espaço), e possuem uma
sonoridade impossível de ser reproduzida à exatidão – mesmo Herrmann, em
suas populares regravações de seus trabalhos, não conseguiu fazê-lo.
Enfim,
o que importa mesmo é que, em qualquer versão, o score de Herrmann (que
está a anos luz da trilha que Tyler Bates compôs para a fraca
refilmagem de 2008) é indispensável, não somente por sua importância
histórica mas também pelo puro prazer que sua audição proporciona.
Matéria publicada por SCI FI BRASIL.
Bernard Herrmann (1911-1975)
Muitos
discutem se Bernard Herrmann foi o maior compositor de cinema que já
existiu. Mas é indiscutível que Herrmann, graças ao seu legado em termos
de estrutura musical, uso de instrumentação inovadora e estilo de
composição, teve grande influência no modo como os filmes passaram a ser
musicados, e conquistou seu lugar ao lado de Miklos Rozsa, Erich
Wolfgang Korngold, Franz Waxman, Alfred Newman e Max Steiner na galeria
dos grandes compositores da Era de Ouro de Hollywood. Nascido em Nova
York no dia 29 de junho de 1911, Herrmann foi um prodígio que iniciou a
compor ainda adolescente, e aos 20 anos de idade formou uma orquestra. A
sua amizade com o então apenas promissor diretor Orson Welles levou-o a
compor para muitos dos programas de rádio de Welles, e principalmente
ao seu primeiro score cinematográfico em 1941 - CITIZEN KANE. Nos trinta
anos que se seguiram, Herrmann compôs algumas das mais inovadores e
marcantes trilhas que o cinema conheceu. A filmografia de Herrmann
contém tantas obras-primas que é difícil destacar alguma: THE
MAGNIFICENT AMBERSONS, THE GHOST AND MRS. MUIR, THE WRONG MAN, VERTIGO,
NORTH BY NORTHWEST, PSYCHO, CAPE FEAR...
Em
contraste ao estilo que prevalecia em Hollywood, as trilhas de
Herrmann, no lugar de luxuriantes arranjos para toda a orquestra,
possuíam orquestrações incomuns, normalmente dando ênfase a uma
categoria específica de instrumentos. É o caso da música de PSICOSE
(1960), composta exclusivamente para cordas. Igualmente inovador foi o
uso de temas breves e facilmente reconhecíveis, ao invés de melodias
mais longas. Herrmann conquistou o Oscar em 1941 por THE DEVIL AND
DANIEL WEBSTER, sendo também indicado por CITIZEN KANE (1941), ANA AND
THE KING OF SIAM (1946), TAXI DRIVER (1976) e OBSESSION.
Herrmann e Hitch (no set de THE TROUBLE WITH HARRY) |
Apesar
de Herrmann ter sido um sujeito difícil e irascível, ao longo de sua
carreira manteve com sucesso algumas parcerias com diretores e
produtores. De fato, o compositor é lembrado pelo cinéfilo
principalmente por sua colaboração com o mestre do suspense, Alfred
Hitchcock. Dentre as muitas trilhas para Hitchcock, destacam-se THE MAN
WHO KNEW TOO MUCH (1956) - no qual aparece conduzindo uma orquestra -
VERTIGO (1958) e o já citado PSYCHO (1960).
Tão
importante quanto a colaboração com Hitchcock foi a obra de Herrmann
dedicada ao cinema fantástico. Filmes como THE 7th VOYAGE OF SINBAD
(1958), THE THREE WORLDS OF GULLIVER (1960), MYSTERIOUS ISLAND (1961) e
JASON AND THE ARGONAUTS (1963), em parceria com o mestre dos efeitos
especiais Ray Harryhausen, tiveram suas cenas filmadas quadro-a-quadro
engrandecidas pela música enérgica e criativa do compositor. Como nenhum
outro de seus colegas, "Benny" (como seus amigos o chamavam) conseguia
não apenas criar melodias para acompanhar as imagens de um filme, mas
também transportar essas imagens para a música, elevando-a para uma nova
dimensão de impacto.
A
partir de 1993, uma série de relançamentos e regravações em CD
trouxeram a obra de Herrmann para toda uma nova geração de apreciadores
de trilhas sonoras. Destaca-se na extinta Fox Classic Series THE DAY THE
EARTH STOOD STILL (1951), com a gravação original remasterizada em
estéreo. A London relançou várias suítes de obras conduzidas pelo
compositor nos anos 60 e 70 (já editadas nos anos 80 nos 4 CDs de The
Concert Suites), e a Marco Polo produziu uma nova gravação de JANE EYRE
(1944), à qual seguiu-se GARDEN OF EVIL (1954). A Rhino lançou a
primeira versão integral da trilha de NORTH BY NORTHWEST (1959), mas sem
dúvida o mérito maior fica com a tradicional gravadora Varèse
Sarabande, que ao lado de outros títulos de Herrmann em catálogo,
adicionou regravações conduzidas por Joel McNeely de FAHRENHEIT 451,
VERTIGO (além da versão expandida da gravação original), THE TROUBLE
WITH HARRY e PSYCHO. A Varèse também retomou a série clássica da Fox com
a gravação estéreo original de JOURNEY TO THE CENTER OF THE EARTH
(1959) e THE GHOST AND MRS. MUIR. Nesta primeira edição integral de
VIAGEM AO CENTRO DA TERRA, as orquestrações graves e majestosas, sem
qualquer tipo de cordas e com o uso de vibrafone, metais, cinco órgãos e
harpas, a música mostra ser o verdadeiro cenário do filme. Nela podemos
visualizar as cavernas gigantescas, os monstros pré-históricos, a
cidade perdida de Atlântida, as explosões vulcânicas. Na nova edição de
PSYCHO (VSD-5765), de um modo geral, o condutor conseguiu recriar o
ritmo e o tempo da música de Herrmann, porém haverá quem ainda prefira a
versão que o próprio autor regravou em 1975, conduzindo a National
Philarmonic Orchestra, ou até mesmo a excelente adaptação que Danny
Elfman fez da trilha para a controvertida refilmagem de 1998. O CD de
McNeely, contudo, possui alguns bônus - uma versão alternativa da
sequência pós-assassinato, e mais importante, o tratamento original de
Herrmann para a faixa "Discovery". No filme, Hitchcock preferiu repetir
os violinos do assassinato do chuveiro na cena em que Vera Miles
descobre o cadáver embalsamado da mãe de Norman Bates (Anthony Perkins).
A série de McNeely prosseguiu com CITIZEN KANE e a trilha rejeitada por
Hitchcock para TORN CURTAIN.
Entre
as recentes regravações de obras de Herrmann, ainda citamos THE 7th
VOYAGE OF SINBAD (VSD-5961), conduzida por John Debney, a primeira
versão completa em CD de JASON AND THE ARGONAUTS (MAF-7083), conduzida
por Bruce Broughton (ver em CDs comentados), e THE EGYPTIAN, composta em
parceria com o grande Alfred Newman. Bernard Herrmann morreu em 23 de
dezembro de 1975, algumas horas após encerrar as gravações de TAXI
DRIVER, de Martin Scorcese, trilha relançada em 1998 pela Arista em uma
estupenda e completa edição. Scorcese, aliás, era um grande fã do
compositor, a quem teve a oportunidade de homenagear quando refilmou
CAPE FEAR (1991): reutilizou a trilha do filme original composta por
Herrmann, adaptada por Elmer Bernstein, juntamente com trechos do score
não utilizado em TORN CURTAIN
LÉON THEREMIN
Se
Deus ou Deuses ou Anjos ou Diabos tocassem um instrumento musical, esse
instrumento seria, sem dúvida, o Theremin. Apoteótico, reveste-se de um
som etéreo, capaz de invadir o corpo, capaz de estilhaçar a alma. É
mágico. Um instrumento musical que não se toca. Ou que se toca sem se
tocar. O instrumentista do Theremin, ou theremista, assemelha-se a um
maestro sem batuta, a comandar uma orquestra invisível, a embriagar o
ouvinte com éter. O Theremin soa como o vento na frincha da janela, como
o canto hipnótico de uma sereia, como a presença invisível de um
fantasma.
Quando
se imagina Lenin a tocar este instrumento vê-se Leni a comandar as
tropas. Porquê? Porque sim: Lenin tocava Theremin. Lenin gostava tanto
do então bizarro instrumento que até encomendou 600 exemplares para
distribuir pela União Soviética e ainda mandou o seu inventor dar uma
volta aos Estados Unidos da América a anunciar a invenção da música
electrónica. É verdade. O Theremin é o primeiro instrumento musical
totalmente electrónico, o instrumento precursor da música electrónica.
Léon Theremin jovem |
Em
plena Guerra Civil Russa, o inventor Léon Theremin andava às voltas com
uma investigação patrocinada pelo governo russo em sensores de
proximidade. Basicamente era um estudo sobre as interferências das mãos
nos transmissores radiofónicos que alteravam as frequências e
prejudicavam irritantemente as comunicações. Certamente dotado de uma
sensibilidade fora do comum, o senhor Theremin foi rodeado pela beleza
sonora quase surreal que advinha de tão incómoda interferência. Tinha à
sua frente dois osciladores (basicamente duas antenas de metal) de alta
frequência por onde circulava a invisível corrente eléctrica, e quando
aproximava a mão de uma das antenas, ao alterar a sua frequência, surgia
misterioso e infinitamente belo este som que o percorria, como um
arrepio pela coluna, como uma corrente leve e agradável. Reparou
entretanto que com uma mão conseguia controlar a frequência e com a
outra a amplitude, ou volume. Foi então que decidiu amplificar estes
sons novíssimos e ligar o instrumento a uma coluna. Aí deu-se o êxtase. O
orgasmo sonoro.
LÉON THEREMIN |
A
patente do Theremin aconteceu em 1928. Começou por chamar-se etherphone
(“telefone de éter?”), Thereminophone (“telefone do sr. Theremin?”) e
Termenvox (“a voz de Termen” – em homenagem ao mesmo sr. Theremin cujo
nome de nascença é Lev Sergeyevich Termen).
Na
sua viagem pelos Estados Unidos da América, foi oferecido a Léon
Theremin um estúdio onde ele treinou diversos músicos com o intuito de
levar estes novos sons ao grande público. Tudo parecia estar a correr
bem até que, em 1938, e por motivos um pouco obscuros, Léon foi obrigado
a regressar à União Soviética deixando para trás o estúdio, a fama, os
amigos e a sua mulher. Alguns desses motivos um pouco obscuros da sua
fuga forçada podem ser desvendados na sua biografia – Theremin: Ether
Music and Espionage (“Teremim: Música Etérea e Espionagem”) –, escrita
por Albert Glinsky após o seu reaparecimento, 30 anos depois.
Permitam
apresentar Clara Rockmore. Clara Rockmore não era uma rapariga que
queria mais rock. Clara era uma pródiga estudante de violino russa e
adorava música clássica. Aos cinco anos era já considerada
extraordinária, até que um problema nas mãos lhe retirou o violino do
pescoço e a fez dedicar-se às cordas invisíveis do Theremin. Como aluna
predilecta do inventor deste novo instrumento, Clara tornou-se
rapidamente a melhor theremista do mundo e acompanhou o seu mestre na
viagem encomendada por Lenin. Nos Estados Unidos da América fez vários
espectáculos deslumbrando plateias com o seu método único – o “dedilhar
aéreo” –, tocando o instrumento com uma precisão sem paralelo.
Inicialmente,
o Theremin foi concebido para tocar música clássica e até para
substituir orquestras inteiras com a sua “música etérea”. Tal não
aconteceu, inclusive acabou por cair em esquecimento depois da II Guerra
Mundial, quando se calaram as bombas e rebentou uma nova vaga de
instrumentos electrónicos. Por onde andou o Theremin este tempo todo? Um
pequeno nicho de aficionados foi utilizando o instrumento nas suas
composições ao longo dos anos, tendo havido um breve ressurgir nos anos
60 e 70 em bandas como, por exemplo, os Led Zeppelin. Foi em 1993, com o
lançamento do documentário Theremin: An Electronic Odyssey ("Teremim:
Uma Odisseia Electrónica"), dirigido por Steven M. Martin, que, aliado
ao revivalismo da música contemporânea, fez com que as etéreas
frequências do Theremin passassem a ser utilizadas com maior frequência.
Neste documentário podemos assistir a várias entrevistas com figuras
lendárias da indústria musical e, peculiarmente, uma entrevista com o
próprio Léon Theremin.
A
magia do instrumento de Deus e do Diabo foi utilizada em diversas
bandas sonoras e por muitos grupos musicais. Actualmente despoleta um
renovado interesse e podem ser adquiridos em diversos fabricantes
modelos como o PAIA’s Theremax, o Wavefront’s Classic e o Travel-Case. A
Moog Music Inc., de Robert Moog (pioneiro da música electrónica que
construiu centenas de Theremins muito antes de construir sintetizadores)
produz os conhecidíssimos modelos Etherwave. De relevar que sem Moog o
Theremin poderia não ter sobrevivido como um instrumento vivo, em que
agora se redescobre a magia do éter.