Obras da década de 1490
- Retratos de Perfil
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Por volta deste período datam-se mais dois retratos atribuídos ao artista, o inacabado Retrato de um Músico, seu único retrato pictórico masculino e La Belle Ferronière, retrato de Lucrezia Crivelli, amante de Ludovico, encerrando um ciclo de retratos femininos na corte milanesa.
Há uma referência documentada de uma encomenda, possivelmente do duque Ludovico Sforza, presente em uma lista que instruía um de seus funcionários, Marchesino Stanga, com tarefas que lhe exigiam atenção. Uma das tarefas era que
apresse Leonardo, o florentino, a terminar o trabalho no refeitório delle Grazie, que ele começou, para que se ocupe em seguida do outro salão do refeitório delle Grazie; e que os contratos que ele assinou com sua mão sejam cumpridos, pois o obrigam a terminar o trabalho dentro do tempo que será combinado com ele - Ludovico Sforza
década de 1490, é A Última Ceia (1495-1498), pintada no refeitório dos padres dominicanos de Santa Maria delle Grazie em Milão. É uma obra fundamental da história da Arte. A pintura apresenta a última ceia, partilhada por Jesus com seus discípulos, antes de sua captura e execução. Mostra o momento específico em que Jesus, de acordo com o relato bíblico, teria dito aos apóstolos que um deles o trairia. Leonardo mostra a consternação que esta afirmação provocou entre os doze seguidores de Jesus. O romancista Matteo Bandello observou Leonardo trabalhando na obra, e escreveu que
Por diversas ocasiões, presenciei Leonardo dirigir-se logo pela manhã para se dedicar à pintura de A Última Ceia. Costumava permanecer ali, desde o nascer do sol até o entardecer, sem deixar os pincéis descansarem de suas mãos, pintando sempre, sem comer nem beber. Depois, por três ou quatro dias, não voltava a tocar no trabalho" - Matteo Bandello
Isto, de acordo com Vasari, estava além da compreensão do prior, que o atormentou até que Leonardo pedisse a intervenção de Ludovico. Vasari descreve como Leonardo, atormentado com a dúvida de sua capacidade de retratar os rostos de Cristo e do traidor Judas, disse ao duque que seria obrigado a usar o próprio prior como seu modelo.
Quando terminada, a pintura foi aclamada como uma obra-prima do desenho e da caracterização, porém rapidamente deteriorou-se, a tal ponto que, cem anos depois de seu término, a obra foi descrita por um observador seu como "completamente arruinada". Leonardo, em vez de usar a técnica mais confiável do afresco, utilizou-se da têmpera sobre uma superfície feita basicamente de gesso - o que resultou num material sujeito ao mofo e a esfarelar-se. Apesar disso, a pintura continua a ser uma das obras de arte mais reproduzidas de todos os tempos, e incontáveis cópias suas são feitas corriqueiramente, das maneiras mais variadas - de tapetes a camafeus.
Obras da década de 1500
Retorno a Florença, 1500-1506
Em Florença estão documentadas uma ou duas pequenas pinturas da Virgem com o Menino, trabalhadas por Leonardo e seu ateliê, por volta de 1501 em uma carta de Pietro da Novellara para Isabella d'Este, a grande dama do Renascimento protetora das artes em Mântua.A pintura da Virgem do Fuso -como no caso da Virgem dos Rochedos com mais de uma versão-, destinava-se ao secretário de Estado francês Florimond Robertet, sendo-lhe entregue, provavelmente, uma de suas versões em 1507, em Blois.Que o teu trabalho seja perfeito para que, mesmo depois da tua morte, ele permaneça. |
— Leonardo da Vinci
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Atribuídas ao ateliê de Leonardo como cópias de um original perdido, ou instrucionadas pelo mestre. |
Ao longo dos tempos, vários críticos têm atribuído diversas interpretações ao fuso, mas o mais certo é mesmo que represente uma cruz, mas simplesmente, de forma simbólica.
De fato, as enormes inteligência e criatividade de Leonardo permitiam-lhe tratar todos os assuntos que lhe provocavam algum interesse recorrendo a símbolos. Caso queira representar uma cruz, especialistas apontam duas hipóteses, sendo a mais provável a segunda. Muitos creem, baseando-se nas cópias existentes, que o Menino mira o fuso (simbolicamente, a cruz) com uma devoção perplexa, reforçada pela expressão do seu olhar, que parece agradado com o objeto que tem em mãos. No entanto, em segunda hipótese está a ideia de que o Menino brinca com o fuso com alegria, o que seria considerado uma heresia na altura em que foi pintada, caso este represente uma cruz. A imagem de Jesus brincando com a cruz não seria aceita pela conservadora sociedade, e menos ainda pela Igreja e pelo Tribunal Inquisidor, o que reforçaria os fins de devoção privada.
Atualmente, existem duas versões associadas a Leonardo, mas as atribuições não são unânimes. É provável que as pinturas sejam cópias do original de Leonardo, de autoria dos pupilos do artista, com ou sem o auxílio do mestre.
Imagem culminante da poética de da Vinci |
— Pietro C. Marani
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Outra característica observada nesta obra é o vestido sem adornos (uma maneira de evitar que o espectador não tenha a sua atenção desviada dos olhos e das mãos da retratada), o cenário de fundo, dramático, no qual o mundo parece estar no estado de fluxo contínuo, com uma coloração controlada, e a natureza extremamente suave da técnica de pintura, que emprega tintas a óleo aplicadas como se fossem têmpera, e misturadas de tal maneira na superfície que as pinceladas não podem ser percebidas.Vasari expressou a opinião de que a maneira com que Leonardo fez a pintura faria mesmo "o mais confiante dos mestres (…) desesperar-se e desanimar." O estado perfeito de conservação em que a pintura se encontra, e o fato de que não existem outros sinais de reparos relevantes ou pinturas sobrepostas é extremamente raro numa pintura desta idade.
A identidade do modelo é motivo de controvérsias, acredita-se que seja Lisa del Giocondo (Lisa Gherardini), mulher de um comerciante florentino, Francesco del Giocondo, com base em notas escritas de Agostino Vespucci de 1503 em um livro impresso de Cícero, de 1477 (parte do acervo de livros datados da primeira fase da imprensa), encontradas na Biblioteca da Universidade de Heidelberg, confirmando a afirmação de Vasari, que identificou a pintura como "Monalisa" em sua publicação em 1550, em referência à Lisa del Giocondo. Descobriu-se também que Lisa tinha sido mãe recentemente, e o retrato foi realizado possivelmente em comemoração da recente maternidade.[90][91] Esta teoria é reforçada pela descoberta de um fino véu negro -utilizado pelas aristocratas toscanas durante, e alguns meses após a gestação-, durante pesquisas do Centro de Pesquisa e Restauração dos Museus da França (C2RMF) e o Conselho Nacional de Pesquisas do Canadá (NRC), quando a pintura foi submetida ao exame em infravermelho.[92] Lillian Schwartz, cientista dos Laboratórios Bell, sugere que a Mona Lisa é, na verdade, um autorretrato de Leonardo, porém, vestido de mulher. Esta teoria baseia-se no estudo da análise digital das características faciais do rosto de Leonardo e os traços do modelo. Comparando um auto retrato de Leonardo com a mulher do quadro, verifica-se que as características dos rostos alinham-se perfeitamente. Essa hipótese ganha ênfase em O Código da Vinci, best-seller de Dan Brown.
Em 1506, o então governador francês do ducado de Milão, Charles d'Amboise, solicitou ao governo de Florença a permissão para a viagem de Leonardo a Milão, para resolver o problema de trabalhos pendentes. A permissão concedida era de três meses, entretanto, o artista acabou permanecendo na cidade mais tempo do que o previsto.
Retorno a Milão, 1506-1513
Leonardo teve uma estranha carreira, de não cumprimento de prazos, de encomendas inconcluídas ou mesmo jamais entregues, o que resultava em clientes insatisfeitos e frequentes cobranças. Destes trabalhos inacabados, parece existir um importante que retoma as posições oblíquas de pinturas anteriores como São Jerônimo no Deserto, e cuja origem não é necessariamente de uma encomenda.
A Virgem, o Menino, Sant'Ana e São João Batista, Leonardo emprega novamente o sutil efeito do sfumato. A pintura retrata a Virgem Maria (cujo manto parece evocar a igualmente oblíqua Virgem Benois, uma de suas primeiras Madonas), seu filho Jesus e sua mãe Santa Ana, avó de Jesus, em uma cena privada e intimista. O que faz esta pintura incomum é que há duas figuras posicionadas obliquamente, sobrepostas. Maria está sentada no joelho de sua mãe, Santa Ana. Ela se inclina para frente para segurar o menino Jesus que brinca (um tanto grosseiramente) com um cordeiro, sinal de seu próprio e vindouro sacrifício. Essa pintura copiada muitas vezes, foi influência para Michelangelo, Rafael e Andrea del Sarto, e através deles Pontormo e Correggio. Na composição, Leonardo mostra novidades que serão adotadas principalmente pelos pintores venezianos Tintoretto e Veronese.
Essa pintura assim como Mona Lisa acompanharia Leonardo desde então, entretanto devido a problemas, ficou por concluir.
Últimas obras
Em 1512, Massimiliano Sforza, filho de Ludovico toma posse do ducado de Milão, após a expulsão das tropas francesas de Luís XII, e Leonardo viu-se sem patrono. Em 1513, o filho de Lourenço il Magnifico, Giuliano de' Médici, o então chefe do estado de Florença, fez um convite para Leonardo viajar à Roma, que estava sobre o controle do seu irmão mais velho, Giovanni (João), agora Papa Leão X.Em Roma, 1513-1516
Os Médici me fizeram, e os Médici me destruíram |
— Leonardo da Vinci
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] Leonardo o observador, cientista e inventor
Ele foi um homem que acordou cedo demais na escuridão, enquanto os outros continuavam a dormir |
Introdução
Os cadernos são, em sua maioria, escritos de forma invertida. A razão pode ter sido mais uma oportunidade prática, do que por razões de sigilo como muitas vezes é sugerido. Sendo Leonardo provavelmente canhoto, é possível que lhe era mais fácil escrever da direita para a esquerda.
Suas anotações e desenhos mostram uma enorme gama de interesses e preocupações, algumas tão banais como as listas de compras e as pessoas que lhe deviam dinheiro, e outras tão intrigantes como desenhos de asas e sapatos para caminhar sobre a água. Há composições de pinturas, estudos de detalhes e panejamentos, estudos de rostos e gestos, de animais, bebês, dissecações, estudo de plantas, formações rochosas, piscinas de hidromassagem, máquinas de guerra, helicópteros e arquitetura.
Os estudos de Leonardo parecem ter sido destinados a publicação, porque muitas das folhas têm uma forma e ordem que facilitam à mesma. Em muitos casos, um único tópico, por exemplo, o coração ou o feto humano, é abordado em detalhes em palavras e imagens, em uma única folha. O motivo de eles não terem sido publicados durante a vida de Leonardo é desconhecido.
Estudos científicos
Homem Vitruviano
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Uma análise recente e exaustiva de Leonardo como cientista por Frtijof Capra defende que Leonardo era um tipo fundamentalmente diferente de cientistas como Galileu, Newton e outros cientistas que o seguiram. Sua experimentação seguiu claro, abordagens com métodos científicos, e juntamente a sua teorização e hipotética voltada as artes, particularmente na pintura, o fizeram um Leonardo único e integrado, em que pontos de vista holísticos da ciência, fazem dele um precursor dos modernos sistemas teóricos e complexas escolas de pensamento.
Anatomia
A formação de Leonardo da anatomia do corpo humano iniciou-se com o seu aprendizado no ateliê de Andrea del Verrocchio, seu mestre insistia que todos os alunos deviam aprender anatomia. Como artista, ele rapidamente se tornou mestre da anatomia topográfica, realizando muitos estudos de músculos, tendões e outras características anatômicas visíveis.Como um artista de sucesso, ele recebeu a permissão para dissecar cadáveres humanos no Hospital de Santa Maria Nuova, em Florença e mais tarde no hospital de Milão e Roma. Entre 1510 e 1511, colaborou em seus estudos o médico Marcantonio della Torre, e juntos elaboraram um trabalho teórico sobre a anatomia, em que Leonardo fez mais de 200 desenhos. Foi publicado apenas em 1680 (161 anos após sua morte), integrando o Trattato della Pittura.
Leonardo desenhou muitos estudos sobre o esqueleto humano e suas partes, bem como os músculos e nervos, o coração e o sistema vascular, os órgãos sexuais, e outros órgãos internos. Ele fez um dos primeiros desenhos científicos de um feto no útero. Como artista, Leonardo observou e registrou cuidadosamente os efeitos da idade e da emoção humana sobre a fisiologia, estudando em particular os efeitos da raiva. Ele também desenhou muitas figuras importantes que tinham deformidades faciais ou sinais de doença.
Ele também estudou e desenhou a anatomia de animais diversos, bem como, dissecando vacas, aves, macacos, ursos e rãs, e comparava seus desenhos em sua estrutura anatômica com o dos seres humanos. Ele também fez uma série de estudos de cavalos.
Engenharia e invenções
Durante sua vida, Leonardo era valorizado como um engenheiro. Em uma carta a Ludovico, il Moro, afirmou ser capaz de criar todos os tipos de máquinas, tanto para a proteção de uma cidade, quanto para o cerco. Quando ele fugiu para Veneza em 1499, encontrou emprego como engenheiro e arquiteto militar e concebeu um sistema de barricadas móveis para proteger a cidade de um ataque naval. Ele também tinha um esquema para desviar o fluxo do rio Arno, um projeto no qual também trabalhou Nicolau Maquiavel.[100][101] Os cadernos de Leonardo incluem um vasto número de invenções, alguns de possível construção, outros impossíveis. Eles incluem instrumentos musicais, bombas hidráulicas, canhões, entre outros.Em 1502 Leonardo da Vinci produziu um desenho de uma ponte como parte de um projeto de engenharia civil para Sultão Bayezid II de Istambul. Nunca foi construída, mas a visão de Leonardo foi ressuscitada em 2001 quando uma ponte menor, baseada no projeto dele, foi construída na Noruega. Em 17 de maio de 2006, o governo turco decidiu construir a ponte de Leonardo para medir o Corno de Ouro.
Por maior parte de sua vida, Leonardo foi fascinado pelo fenômeno de voo, produzindo muitos estudos detalhados do voo dos pássaros, incluindo o seu Codex sobre o Voo dos Pássaros de 1505, bem como planos para várias máquinas voadoras, tentou aplicar seus estudos para os protótipos que desenhou, o primeiro batizado de SWAN DI VOLO (Cisne voador), segundo especialistas é de 1510, inclusive um helicóptero movimentado por quatro homens, e um planador cuja viabilidade já foi provada.
Leonardo, o mito
Monumento dedicado a Leonardo da Vinci e seus pupilos na Piazza della Scala em Milão, obra de Pietro Magni.
Giorgio Vasari, na edição ampliada de Le vite de' più eccellenti pittori, scultori e architettori, 1568, apresenta o seu capítulo sobre Leonardo da Vinci com as seguintes palavras:
No curso natural dos acontecimentos, muitos homens e mulheres nascem com talentos notáveis, mas, ocasionalmente, de uma maneira que transcende a natureza, uma única pessoa é maravilhosamente dotada pelo céu com a beleza, graça e talento em abundância tal que ele deixa os outros homens para trás, todas as suas ações parecem inspiradas e, na verdade tudo o que faz claramente vem de Deus e não da habilidade humana. Todos reconhecem que isso era verdade em Leonardo da Vinci, um artista de beleza física excepcional, que mostrou infinita graça em tudo que ele fez e que cultivou seu gênio tão brilhante que todos os problemas que estudou, ele resolveu facilmente.
A admiração por Leonardo continuou comandada a partir de pintores, críticos e historiadores, refletida em muitas outras homenagens escritas. Baldassare Castiglione, autor de Il Cortegiano ("O Cortesão"), escreveu em 1528: (...)Outro dos maiores pintores nesse mundo olha para baixo sobre esta arte em que ele é inigualável(...), enquanto o biógrafo conhecido como "Anônimo Gaddiano", escreve em 1540: Seu gênio era tão raro e universal, que pode-se dizer que a natureza fez um milagre em seu nome(...).
O século XIX trouxe uma admiração especial pelo gênio de Leonardo, fazendo com que Henry Fuseli escrever-se em 1801: Tal foi o alvorecer da arte moderna, quando Leonardo da Vinci quebrou adiante com um esplendor que afastasse a excelência anterior: formada por todos os elementos que constituem a essência do gênio(...) Isto é ecoado por A. E. Rio, que escreveu em 1861: Ele elevou-se acima de todos os outros artistas com a força e a nobreza de seus talentos.
O famoso historiador de arte Bernard Berenson escreveu em 1896: Leonardo é o artista, um dos quais pode-se dizer perfeito literalmente: nada do que tocou se transformou, se não em uma coisa de beleza eterna. Quer seja a seção transversal de um crânio, a estrutura de uma erva daninha, ou um estudo de músculos, ele, com seu sentimento de linha e de luz e sombra, sempre transformou isso em vida, comunicando valores.
O interesse pelo gênio de Leonardo continuou inabalável; especialistas estudam e traduzem seus escritos, analisam suas pinturas com técnicas científicas, discutem sobre atribuições e buscam por trabalhos que nunca foram encontrados. Liana Bortolon, escrevendo em 1967, disse: Por causa da multiplicidade de interesses que lhe incentivou a buscar cada campo do conhecimento(...) Leonardo pode ser considerado, muito justamente, ter sido um gênio universal por excelência, e com todas as implicações inerentes a esse inquietante termo. O homem é como um incômodo hoje, enfrentado como o gênio, como era no século XVI, cinco séculos se passaram, mas continuamos a ver Leonardo com temor.