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YOSHISHIGE YOSHIDA


EROS + MASSACRE
1969
YOSHISHIGE YOSHIDA


SINOPSE:
Obra-prima da Nouvelle Vague Japonesa, Eros + Massacre é um dos filmes mais importantes do cinema mundial da década de 1960. Exercício formal com claras influências de Alain Resnais e Michelangelo Antonioni, o filme é uma biografia nada convencional do anarquista japonês Sakae Osugi, que discute principalmente sua noção de liberdade sexual através de mais de três horas e meia de deslumbrante narrativa cinematográfica.

O FILME:
Eros + Massacre caracteriza-se no estilo narrativo autêntico e de quebra da grande indústria dos estúdios. Não é por acaso que ele seja considerado uma das grandes obras da Nouvelle Vague Nipônica. O estilo e os temas usados aqui nos remetem ao cinema que diretores como Nagisa Ôshima produziam em filmes como O Homem que Deixou seu Testamento no Filme ou Dupla Suicídio Forçado: Verão Japonês principalmente no tema tabu da sociedade japonesa da época: liberdade sexual. Em Eros + Massacre o tema não se restringe propriamente a isso, pois tanto em outros filmes da época a idéia de liberdade sexual encontra-se atrelada a idéia de liberdade de pensamento. Numa sociedade conservadora como no Japão do pós-guerra assistimos o relacionamento entre dois jovens que discutem o tempo inteiro questão de existência, liberdade e sexo enquanto isso, o diretor nos remete ao inicio do século XX pra contar a história do anarquista Sakae Osugi e de sua amante e escritora de uma revista feminista Noe Ito. Uma biografia de estilo nada convencional apoiada bem mais numa visão pessoal e intima, Yoshida demonstra na longa duração um comparativo de gerações e de idéias, por isso é fácil confundir ambas por causa das peças pregadas pelo diretor na trilha-sonora e nos cenários.
O Diretor Yoshishige Yoshida
Sabemos que os personagens estão na década de 20, mas assistimos a um cenário modernista e trilha-sonora com guitarras elétricas e alguns sons eletrônicos. Esse jogo de tempo e espaço talvez seja pra fixar a idéia de pensamento e conceitos que tanto é exposta na obra. O fato é que Eros + Massacre tornou-se uma obra atemporal, cabe muito bem em época de contracultura e revolução estudantil como na geração contemporânea da informatização e de novos anseios. A direção primorosa de Yoshida regida pela belíssima fotografia de Motokichi Hasegawa e a trilha composta por Toshi Ichiyanagi (Otoshiana), eleva esta obra ao status de uma das mais importantes obras cinematográficas japonesas dos anos 60. Por todo seu foco narrativo e estético pode não ser de agrado na primeira vista, mas a cada nova cena percebe-se que algo de grandioso foi feito.
Por:Nuno Balducci

Entrevista com Sérgio Alpendre, que fala da Nouvelle Vague Japonesa. Alpendre editou a revista Paisà e atualmente é crítico de cinema da Contracampo. Ele promove, ao lado de Francis Vogner dos Reis e Luiz Carlos Oliveira Jr., o curso Panorama do Cinema Japonês e também escreve no blog chip-hazard.

Qual seriam as principais características da ruptura chamada de ‘Nouvelle Vague’ Japonesa? Essa ruptura é bem demarcada?

Revendo os filmes agora, não sei se dá para identificar uma ruptura. Talvez em alguns filmes, de alguns diretores. Oshima, Suzuki, aí sim existe uma ruptura. Mas Imamura, por exemplo, que é o melhor diretor dessa geração da Nuberu Bagu (apesar de não se identificar como parte do movimento), explora o enquadramento scope como Naruse explorava desde o final dos anos 50. Em alguns filmes mais radicais do Oshima, do Suzuki e do Yoshida temos, sim, uma certa ruptura, principalmente na segunda metade dos anos 60, quando os dois últimos começaram a brincar com o desenquadramento. Suzuki extrapolou com A Marca do Assassino. Yoshida chegou no limite com Purgatório Eroica. Aí podemos dizer que houve uma ruptura com o cinema clássico.

Ao que os cineastas do Japão assistiam? E o que guiava a intenção das produtoras de cinema japonesas na época?
Essa geração via muito cinema americano. Alguns mais intelectualizados, como o Yoshida, mergulhavam na Nouvelle Vague. Mas o cinema americano me parece ter um peso maior, como podemos ver nos filmes do Shinoda, do Imamura, mesmo do Oshima.
O que as produtoras queriam era um meio de concorrer com a televisão. Por isso investiram em diretores mais jovens, dando maior liberdade para eles. Tudo começou com a Shochiku, que permitiu as experiências de Oshima, Shinoda e Yoshida, o núcleo da Nuberu Bagu.

Existe uma sintonia formal e temática com os cinemas novos ocidentais?
Existe. Principalmente com o filme B americano e com a Nouvelle Vague.

O personagem feminino é elemento marcante no cinema japonês. Há alguma mudança na retratação do drama feminino a partir do cinema novo?
Há uma mudança principalmente nos filmes do Imamura, que era um grande admirador de Mizoguchi (percebe-se isso em seu cinema). Mas suas mulheres não aceitavam o sofrimento, como as de Mizoguchi. Elas revidavam, combatiam a brutalidade dos homens. Exemplo perfeito disso está em Todos Porcos.

Há alguma cineasta fundamental daquele período que não é considerado dessa ruptura? alguém que surgiu nos anos 60, mas não acabou englobado como nouvelle vague japonesa?
Tem o Kobayashi, que fez seus principais filmes nos anos 60. Tem também o Sugawa, que era sensacional. Fora eles, lembro, de cabeça, de Okamoto, Shindo, mas tem muitos mais…

O que tem o cinema de Teshigahara, Oshima, Imamura, Hani e Yoshida que o cinema de Ozu, Mizoguchi, Kurosawa, Naruse não tem? Há uma ruptura forte entre o cinema clássico japonês e o cinema moderno?
Não acredito que haja uma forte ruptura. Há um prosseguimento. Naruse já tinha mudado bastante seu cinema durante a década de 50, principalmente na adaptação ao formato scope. Pode haver uma adequação aos novos tempos. Mas Mizoguchi, principalmente, continuou a ter um peso muito forte para esse pessoal mesmo que eles não reconhecessem.

Qual a referência desses filmes para o cinema japonês (e oriental como um todo) contemporâneo?
Eu vejo muita influência da Nuberu Bagu nos filmes do Wong Kar-wai, por exemplo. Em alguns policiais de Hong Kong também.

Para temrinar, você poderia fazer um top 10, ou dizer os filmes essenciais ou seus favoritos da ‘Nuberu Bagu’?
Ampliando o termo, e incorporando cineastas que não se consideravam da Nuberu Bagu, chego à seguinte lista de favoritos pessoais:

1- Desejo Assassino, Shohei Imamura
2- A Mulher das Dunas, Hiroshi Teshigahara
3- Tóquio Violenta, Seijun Suzuki
4- Noite e Névoa no Japão, Nagisa Oshima
5- Todos Porcos, Shohei Imamura
6- Eros + Massacre, Yoshishige Yoshida
7- O Profundo Desejo dos Deuses, Shohei Imamura
8- Flor Seca, Masahiro Shinoda
9- Um Trato em Canção Japonesa Pornô, Nagisa Oshima
10- As Termas de Akitsu, Yoshishige Yoshida

NOUVELLE VAGUE JAPONESA
Há quem fale numa nouvelle vague japonesa, empreendida por cineastas conhecidos como Nagisa Oshima e Shohei Imamura, e outros nem tão conhecidos, como Yasuzo Masumura, Masahiro Shinoda, Yoshishige Yoshida e Susumu Hani. Embora a famosa nouvelle vague da França tenha se tornado um exemplo de cinema transgressor, ela não foi a única expressão inovadora de sua época. Em meados dos anos 1950 e início dos 1960, pipocaram novas vagas no mundo inteiro, dentre as quais podemos lembrar o free cinema britânico, os novos cinemas da Polônia, Iugoslávia, o cinema novo brasileiro e o novo cinema indiano, entre outros. O Japão também conheceu sua versão dessas ondas, a nuberu bagu (nouvelle vague), mas lá foi sensivelmente diferente do resto do mundo.

A primeira impressão do termo pode sugerir que a produção de Godard e companhia influenciou os nipônicos. Entre muitas das semelhanças das “novas ondas”, estava um espírito de resgate da identidade nacional, de rebelião contra os parâmetros estabelecidos, de liberalização dos costumes, uma busca pelo autêntico, pela verdade e realidade de cada localidade. Os japoneses estavam tão marcados por estas questões quanto franceses ou brasileiros, mas enquanto estes desenvolviam um modelo de realização independente na produção e na estética, rebelando-se contra a produção dos estúdios, os japoneses começaram sua “revolução” dentro dos estúdios que dominavam seu cinema.
Desejo Assassino - Shohei Imamura
Assim como nos EUA, desde muito cedo, no Japão, se formou um número grande de estúdios que dominaram o mercado de produção no cinema. Cinco deles formaram um sólido grupo: Nikkatsu, Shochiku, Toho, Daiei e Toei. Diferente dos norte-americanos, todavia, a produção desses estúdios era voltada ao mercado interno, contava com menor capital e era marcada por grande austeridade econômica. Havia uma rígida hierarquia na qual, para alguém tornar-se diretor, deveria vir das ocupações mais baixas, investindo sua vida para, no futuro, atingir tal ocupação. Tais estúdios se especializaram em gêneros específicos à cultura japonesa: dramas de época, dramas contemporâneos, dramas sobre a pobreza, máfia japonesa, histórias de família, filmes eróticos, etc.

Todavia, houve grandes transformações após a derrota militar do Japão na segunda guerra mundial. A ocupação americana e processo de “democratização” que se seguiu foram marcados pela invasão dos valores ianques, do jazz, do rock, da cultura de consumo, liberação sexual, etc. Foi nesta época que Shintaro Ishihara publicou A Estação do Sol (Taiyo no Kisetsu, 1955), que impulsionou o surgimento de jovens da chamada taijozoku, a “geração do sol”. O estúdio Nikkatsu adaptou dois livros de Ishihara, entre os quais, A Estação do Sol, dirigido por Takumi Furukawa, e Paixão Juvenil (Kurutta Kajitsu), dirigido por Ko Nakahira, considerado o precursor da nouvella vague japonesa, em 1956. Por esta época, os estúdios começaram a promover uma nova geração de cineastas para poderem se renovar, uma vez que empreendiam uma nova estratégia comercial. Foi assim que Shohei Imamura, Seijun Suzuki, Nagisa Oshima, Yasuzo Masumura, Masahiro Shinoda, Yoshishige Yoshida, Susumu Hani, entre tantos, foram promovidos a diretores na Nikkatsu e Shochiku e mudaram a face do cinema japonês.
Flor Seca - Masahiro Shinoda
Importante frisar que, diferente dos colegas franceses, que queriam desesperadamente trabalhar com cinema, lançando-se primeiro numa empreitada crítica e depois de realização, Oshima, Imamura e companhia foram trabalhar com cinema porque precisavam sobreviver e não porque tivessem algum ideal romântico. Todavia, seu momento histórico era propício para as alterações que iriam construir. O avanço da cultura americana no Japão começava a se tornar uma evidência incômoda. Cineastas, escritores, filmes e romances começaram a refletir sobre este quadro e foi justamente dentro da produção dos estúdios que se iniciou uma ferrenha crítica reflexiva sobre os rumos que o povo e valores japoneses estavam tomando. De certa forma, como coloca Lúcia Nagib, a chamada nouvelle vague japonesa refletia menos o clima revolucionário internacional que se cultivava entre gerações mais jovens do ocidente e mais as circunstâncias das mudanças particulares de um Japão recém saído de uma guerra e sujeito a todo um processo de ocidentalização desenfreada.
Em 1960, foi usado pela primeira vez que o termo nouvelle vague japonesa. Os Incompreendidos (Les Quatre Cents Coups, 1959), de François Truffault, e Acossado (À Bout de Souffle, 1960), de Jean-Luc Godard, foram distribuídos nos Japão e, junto com eles, passava no cinema Conto Cruel da Juventude (Seishun Zankoku Monogatari), dirigido por Nagisa Oshima. Críticos de cinema usaram o slogan francês, então na ordem do dia, para denominar o novo filme de Oshima. O radical diretor abertamente criticava a americanização e a chamada “geração do sol”. Em 1960, lançou três filmes pela Shochiku que caíram como uma bomba no campo cinematográfico japonês: o já citado Conto Cruel da Juventude, no qual jovens que querem apregoar a liberdade de costumes acabam se juntando a gangsters e a viver do crime; Túmulo do Sol (Taiyo no Hakaba), rodado num bairro pobre de Osaka, cujo ápice é o assassinato de um colegial sob o pôr-do-sol no meio das ruínas de prédios bombardeados; e Noite e Névoa do Japão (Nihon no Yoru to Kiri), filme com conteúdo político e esteticamente ousado que foi retirado dos cinemas pelo estúdios após 3 dias de exibição, o que causou a revolta de Oshima, que se demitiu da empresa, causando um escândalo no Japão.
A Mulher das Dunas - Hiroshi Teshigahara
A trajetória de Oshima foi a mais radical, mas no geral, um a um, os cineastas inovadores que começaram a construir novas experiências nos estúdios se desentenderam com seus estúdios e começaram lentamente a buscar caminhos independentes. Alguns poucos continuaram trabalhando nos estúdios até suas falências, pois o momento da nouvelle vague japonesa não foi o começo do cinema independente no Japão, mas o final da era dos estúdios que entraram em decadência desde meados dos anos 1950 e que promoveram novos diretores na tentativa de se revitalizar.

Embora Oshima, no decorrer dos anos 1960, ampliasse seu diálogo com as produções francesas, o único que teve contato amplo com esta foi Yoshishige Yoshida, companheiro de estúdio de Oshima. Seu mais famoso filme do princípio dos anos 1960 foi As Termas de Akitsu (Akitsu Onsen, 1962), sem qualquer violência típica aos filmes de Oshima ou da americanização da “geração do sol”. Todavia seu ataque ao Japão era metaforizado pela estória de uma moça que espera incessantemente um jovem que lhe prometera amor antes de ir para a guerra e que vive isolada, à sua espera, vendo apenas fantasmas da história que ocorre fora de sua casa, enquanto o jovem a atormenta, mas jamais se decide por ela. Seu amor é uma impossibilidade.
Tóquio Violenta - Seijun Suzuki
Já Shohei Imamura trabalhou na Nikkatsu a partir de 1954, onde foi lentamente aperfeiçoando seu “cinema-verdade”, uma forma de cinema crua e naturalista, fugindo aos padrões japoneses de representação das cenas. Seus filmes desta época introduzem conceitos básicos à sua filmografia: homens com instintos animalescos e mulheres vítimas dessa animalidade, mas profundamente ligadas à natureza, como se verifica no filme A Mulher-Inseto/Tratado Entomológico do Japão (Nippon Konchuki, 1963), no qual uma mulher sofre todo tipo de humilhação, torna-se prostituta, assume o controle de um bordel e passa a se vingar com os mesmos atos que antes sofrera.
Imamura, Yoshida, Oshima e tantos outros renovaram o cinema japonês ao confrontar sua realidade social com o cinema num momento histórico de falência da produção dos estúdios. A sociedade japonesa ocidentalizada pagava um alto preço que os cineastas faziam questão de denunciar desafiando os cânones estabelecidos por cineastas como Yasujiro Ozu ou Kenji Mizoguchi, expoentes dos velhos estúdios. A nova geração usou o ocaso de uma forma de produção para lançar um cinema independente que influenciou o mundo todo.




ELENCO:
Mariko Okada
Toshiyuki Hosokawa
Yûko Kusunoki
Kazuko Ineno
Etsushi Takahashi
Daijiro Harada
Taeko Shinbashi
Ejko Sokutai
Masako Yagi

FICHA:

Título Original: Erosu Purasu Gyakusatsu
País De Origem: Japão
Ano De Lançamento: 1969
Gênero: Drama
Duração: 3h 22Min
Idioma: Japonês



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