25 de Outubro de 2011
Sociedade Comercial Abel Pereira da Fonseca
Abel Pereira da Fonseca era no início do
século XX um grande agricultor e empresário que possuía várias
propriedades agrícolas na região do Bombarral, tendo fundado a “Companhia Agrícola do Sanguinhal” .
Esta Companhia foi criada com a finalidade de administrar as suas
propriedades existentes neste concelho do Bombarral e a gerir o negócio
dos vinhos. Viria a possuir propriedades noutros concelhos como Cadaval,
Alenquer e Torres Vedras.
Abel Pereira da Fonseca
A casa "Abel Pereira da Fonseca" inseriu-se no universo das grandes áreas de comércio de início do século XX, devendo ser interpretada como parte da sociedade de consumo. A primeira forma de organização comercial designava-se "Abel Pereira da Fonseca & Cª ".
Anúncio de 1898
Os primitivos armazéns situaram-se na Rua da Manutenção do Estado, em Xabregas no ano de 1907. Em 1910 mudam-se para os armazéns na Rua do Amorim.
Armazéns junto ao rio Tejo, na Rua do Amorim
Entre 1917 e 1930 esta empresa muda de designação, e assim:
1917 - Passa a sociedade por cotas com o nome de "Abel Pereira da Fonseca & Cª, Lda."
1918 - Com a entrada do novo sócio Marcelino Nunes Correia, a designação é alterada de novo para "Abel Pereira da Fonseca, Lda."
1930 - Finalmente, e por último, passa a sociedade anónima de responsabilidade e passa a designar-se "Sociedade Comercial Abel Pereira da Fonseca, S.A.R.L."
Em 1930 esta casa comercial tornou-se a maior de Lisboa, constituindo uma "vila", pela contínua expansão de oficinas, armazéns e casas de pessoal. Marcelino Nunes Correia, Manuel e António (seus filhos) e António Pereira da Silva são os gerentes da sociedade.
Em 1937, Abel Pereira da Fonseca vendeu a sua posição accionista na "Sociedade Comercial Abel Pereira da Fonseca, S.A.R.L.", à família Nunes Correia que ficou com a totalidade das acções, e transformou a “Companhia Agrícola do Sanguinhal” em sociedade por quotas detidas na totalidade pelo sócio fundador e seus filhos. Esta Companhia ainda hoje existe pertencendo à mesma família.
Durante muitos anos, em toda a zona do Beato e do Poço do Bispo, ouvia-se: «Já cheira a carvalho das aduelas e a vinhos de armazém». A maioria das mercadorias e produtos que abasteciam a cidade de Lisboa chegavam pelo rio Tejo. Também a "Abel Pereira da Fonseca" alicerçou no Tejo a estrutura de circulação para a entrada e escoamento dos seus produtos, exemplo disso a opção tomada no logotipo retratando uma fragata do Tejo.
Pipas de vinho e outras mercadorias a bordo de fragatas, junto ao cais do Poço do Bispo
O primeiro crescimento dos armazéns sobranceiros ao rio, faz-se ao longo da Rua Amorim e em 1917, é construído o novo edifício na Praça David Leandro da Silva, em Marvila.
Instalações na Praça David Leandro da Silva, em 1923 …
… e em 1966
Este belo edifício do genial arquitecto Manuel Joaquim Norte Júnior, foi recuperado pela EXPO '98 no âmbito do projecto “Caminhos do Oriente”, de Sarmento de Matos. Hoje, que está em fase de requalificação pela CML
Fernando Pessoa bebendo o habitual cálice de aguardente, numa das idas ao “Abel”
«Era comum Fernando Pessoa, enquanto se encontrava a trabalhar, levantar-se, pegar no chapéu, ajeitar os óculos e ir até ao “Abel”. Esta simples acção de Pessoa, que se tornou um hábito, intrigou um colega de trabalho do poeta, Luiz Pedro Moitinho de Almeida (segundo Fernando Pessoa - empregado de escritório, do João Rui de Sousa). Esse mesmo colega apercebeu-se, algum tempo depois, que as idas ao “Abel” eram, nada mais, nada menos, que uma ida ao depósito mais próximo da casa Abel Pereira da Fonseca para tomar um cálice de aguardente.» texto in: Companhia Agrícola do Sanguinhal.
No interior dos armazéns destaca-se a galeria em betão, espaço onde inicialmente estavam armazenadas pipas e garrafões de vinho, que mais tarde se converteria em área de administração, escritórios e laboratório. Em termos funcionais a estrutura mais imponente e importante foi o conjunto de cento e setenta cubas, com capacidade para mais de vinte milhões de litros, e dos mecanismos de transfega e filtragem.
Painel de Controle “Daubron” e galerias das cubas
Filtro holandês da “Niagaran Filters Europe”
Secção de xaropes e licores
Foram criadas as marcas de vinho "Sanguinhal" ,"Menagem" e “Valdor”, assim como a manutenção do fabrico de azeite e vinagre ligados desde sempre à imagem da empresa.
Bar e esplanada dos Vinhos Sanguinhal em Évora Vinho “Valdor”
Painéis de azulejos publicitários ainda hoje existentes no Bulhão, na cidade do Porto
Mais tarde são embalados pela empresa produtos anteriormente comercializados a granel como cereais e leguminosas secas. Por isso á criada uma rede de depósitos e distribuição principalmente para o vinho e próximos das áreas produtivas, como Torres Vedras, Dois Portos, Runa, Vila Nova de Gaia, Cartaxo, Bombarral, etc. O armazém central e coordenador desta rede de distribuição era no Poço do Bispo.
Outro tipo de bebidas famosas desta casa foram os licores de "A Licorista", fundada em 1896. Mais tarde em 1915 vários empresários reúnem-se e fundam a "Companhia Portuguesa de Licores", localizada nas imediações dos armazéns da "Sociedade Abel Pereira da Fonseca & Cª." e que viria a ser adquirida por esta e transferida para os seus armazéns.
Nos anos 50 do século XX é adquirida uma rede de 25 lojas (na altura apelidadas de mercearias) de seu nome "Vale do Rio". Além de serem lojas de atendimento ao público também faziam distribuição ao domicílio num pequeno raio, dentro do respectivo bairro, feita pelos “marçanos” , funcionários da loja, que carregavam a cesta às costas com o pedido entregando em casa do cliente. Nos anos setenta a rede já contava com 140 lojas, sendo pioneira no seu segmento. Estas lojas passaram a ser os primeiros mini-mercados self-service no país.
Estabelecimento “Vale do Rio” na Rua dos Fanqueiros, em Lisboa
Jornal publicitário em 1948
foto in: Garfadas on line
Em 1961 a “Sociedade Comercial Abel Pereira da Fonseca, S.A.”, tinha 1.200 funcionários. Em 1974 Manuel Rodrigues dos Santos e Alcino Rodrigues Pinhão passaram a novos proprietários e em 1982 era a 2ª maior empresa de comercialização de vinhos em Portugal.
Esta empresa cessou as suas actividades em 1993. Posteriormente em 1998 a firma cedeu o espaço dos armazéns, à Câmara Municipal de Lisboa, para actividades de reanimação cultural e turística integradas no "Caminho do Oriente", em articulação com a “EXPO 98” e a “AMBELIS” - música ao vivo, arte pública, exposições, passagem de modelos, mostra de gastronomia.
Edifício da antiga “Abel Pereira da Fonseca” na Praça David Leandro da Silva, actualmente
fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian, Arquivo Municipal de Lisboa, Instituto Camões, Cª Agrícola do Sanguinhal
Abel Pereira da Fonseca
A casa "Abel Pereira da Fonseca" inseriu-se no universo das grandes áreas de comércio de início do século XX, devendo ser interpretada como parte da sociedade de consumo. A primeira forma de organização comercial designava-se "Abel Pereira da Fonseca & Cª ".
Anúncio de 1898
Os primitivos armazéns situaram-se na Rua da Manutenção do Estado, em Xabregas no ano de 1907. Em 1910 mudam-se para os armazéns na Rua do Amorim.
Armazéns junto ao rio Tejo, na Rua do Amorim
Entre 1917 e 1930 esta empresa muda de designação, e assim:
1917 - Passa a sociedade por cotas com o nome de "Abel Pereira da Fonseca & Cª, Lda."
1918 - Com a entrada do novo sócio Marcelino Nunes Correia, a designação é alterada de novo para "Abel Pereira da Fonseca, Lda."
1930 - Finalmente, e por último, passa a sociedade anónima de responsabilidade e passa a designar-se "Sociedade Comercial Abel Pereira da Fonseca, S.A.R.L."
Em 1930 esta casa comercial tornou-se a maior de Lisboa, constituindo uma "vila", pela contínua expansão de oficinas, armazéns e casas de pessoal. Marcelino Nunes Correia, Manuel e António (seus filhos) e António Pereira da Silva são os gerentes da sociedade.
Em 1937, Abel Pereira da Fonseca vendeu a sua posição accionista na "Sociedade Comercial Abel Pereira da Fonseca, S.A.R.L.", à família Nunes Correia que ficou com a totalidade das acções, e transformou a “Companhia Agrícola do Sanguinhal” em sociedade por quotas detidas na totalidade pelo sócio fundador e seus filhos. Esta Companhia ainda hoje existe pertencendo à mesma família.
Durante muitos anos, em toda a zona do Beato e do Poço do Bispo, ouvia-se: «Já cheira a carvalho das aduelas e a vinhos de armazém». A maioria das mercadorias e produtos que abasteciam a cidade de Lisboa chegavam pelo rio Tejo. Também a "Abel Pereira da Fonseca" alicerçou no Tejo a estrutura de circulação para a entrada e escoamento dos seus produtos, exemplo disso a opção tomada no logotipo retratando uma fragata do Tejo.
Pipas de vinho e outras mercadorias a bordo de fragatas, junto ao cais do Poço do Bispo
O primeiro crescimento dos armazéns sobranceiros ao rio, faz-se ao longo da Rua Amorim e em 1917, é construído o novo edifício na Praça David Leandro da Silva, em Marvila.
Instalações na Praça David Leandro da Silva, em 1923 …
… e em 1966
Este belo edifício do genial arquitecto Manuel Joaquim Norte Júnior, foi recuperado pela EXPO '98 no âmbito do projecto “Caminhos do Oriente”, de Sarmento de Matos. Hoje, que está em fase de requalificação pela CML
Fernando Pessoa bebendo o habitual cálice de aguardente, numa das idas ao “Abel”
«Era comum Fernando Pessoa, enquanto se encontrava a trabalhar, levantar-se, pegar no chapéu, ajeitar os óculos e ir até ao “Abel”. Esta simples acção de Pessoa, que se tornou um hábito, intrigou um colega de trabalho do poeta, Luiz Pedro Moitinho de Almeida (segundo Fernando Pessoa - empregado de escritório, do João Rui de Sousa). Esse mesmo colega apercebeu-se, algum tempo depois, que as idas ao “Abel” eram, nada mais, nada menos, que uma ida ao depósito mais próximo da casa Abel Pereira da Fonseca para tomar um cálice de aguardente.» texto in: Companhia Agrícola do Sanguinhal.
No interior dos armazéns destaca-se a galeria em betão, espaço onde inicialmente estavam armazenadas pipas e garrafões de vinho, que mais tarde se converteria em área de administração, escritórios e laboratório. Em termos funcionais a estrutura mais imponente e importante foi o conjunto de cento e setenta cubas, com capacidade para mais de vinte milhões de litros, e dos mecanismos de transfega e filtragem.
Painel de Controle “Daubron” e galerias das cubas
Filtro holandês da “Niagaran Filters Europe”
Secção de xaropes e licores
Foram criadas as marcas de vinho "Sanguinhal" ,"Menagem" e “Valdor”, assim como a manutenção do fabrico de azeite e vinagre ligados desde sempre à imagem da empresa.
Bar e esplanada dos Vinhos Sanguinhal em Évora Vinho “Valdor”
Painéis de azulejos publicitários ainda hoje existentes no Bulhão, na cidade do Porto
Mais tarde são embalados pela empresa produtos anteriormente comercializados a granel como cereais e leguminosas secas. Por isso á criada uma rede de depósitos e distribuição principalmente para o vinho e próximos das áreas produtivas, como Torres Vedras, Dois Portos, Runa, Vila Nova de Gaia, Cartaxo, Bombarral, etc. O armazém central e coordenador desta rede de distribuição era no Poço do Bispo.
Outro tipo de bebidas famosas desta casa foram os licores de "A Licorista", fundada em 1896. Mais tarde em 1915 vários empresários reúnem-se e fundam a "Companhia Portuguesa de Licores", localizada nas imediações dos armazéns da "Sociedade Abel Pereira da Fonseca & Cª." e que viria a ser adquirida por esta e transferida para os seus armazéns.
Nos anos 50 do século XX é adquirida uma rede de 25 lojas (na altura apelidadas de mercearias) de seu nome "Vale do Rio". Além de serem lojas de atendimento ao público também faziam distribuição ao domicílio num pequeno raio, dentro do respectivo bairro, feita pelos “marçanos” , funcionários da loja, que carregavam a cesta às costas com o pedido entregando em casa do cliente. Nos anos setenta a rede já contava com 140 lojas, sendo pioneira no seu segmento. Estas lojas passaram a ser os primeiros mini-mercados self-service no país.
Estabelecimento “Vale do Rio” na Rua dos Fanqueiros, em Lisboa
Jornal publicitário em 1948
foto in: Garfadas on line
Em 1961 a “Sociedade Comercial Abel Pereira da Fonseca, S.A.”, tinha 1.200 funcionários. Em 1974 Manuel Rodrigues dos Santos e Alcino Rodrigues Pinhão passaram a novos proprietários e em 1982 era a 2ª maior empresa de comercialização de vinhos em Portugal.
Esta empresa cessou as suas actividades em 1993. Posteriormente em 1998 a firma cedeu o espaço dos armazéns, à Câmara Municipal de Lisboa, para actividades de reanimação cultural e turística integradas no "Caminho do Oriente", em articulação com a “EXPO 98” e a “AMBELIS” - música ao vivo, arte pública, exposições, passagem de modelos, mostra de gastronomia.
Edifício da antiga “Abel Pereira da Fonseca” na Praça David Leandro da Silva, actualmente
fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian, Arquivo Municipal de Lisboa, Instituto Camões, Cª Agrícola do Sanguinhal